De uma forma ou de outra, eu sentia que poderia possuir Laura por inteiro. Tinha plena consciência que faltava-me apenas uma aproximação. Laura não tomaria o primeiro passo, não se arriscaria a tanto. Para ela tudo estava como estava e nada mais. Não havia incômodo algum em sua situação.
Suas palavras costumavam ser muito obtusas. Ela não queria deixar claro o que sentia ou pensava. Também escondia qualquer ciúme ou sinal de afeto. A verdade estava nas ações, então se não dissesse ou demonstrasse afeto, ele simplesmente não existiria.
Laura fazia-se de aventureira incorrigível. Todas as suas experiências mais sólidas com outras pessoas se mostravam vazias em seus relatos. Como se tudo não fosse nada além de um equívoco. Nas suas histórias havia, muito mais do que desabafos, uma maneira sutil de me afastar. Era como se me avisasse do meu futuro, caso quisesse um contato mais próximo. A dureza como observava a falha de outras pessoas era a mesma dureza como me prevenia de que jamais me amaria.
Eu não queria Laura. Nela eu via o projeto não realizado, tudo que poderia ser, mas não é. Até porque alguma coisa faltava em Laura. Meu sentimento por ela se mantinha suspenso, havia até alguma vontade de concretizá-lo. Entretanto, logo percebia que não era Laura quem eu queria, era o que Laura não almejava ser. Eu desejava o que Laura seria sem tanta hostilidade nas palavras, sem tanta frieza na postura, sem tanto fingir que não se importava.
Sentia-a se afastando de mim cada vez mais. Perdia-a aos poucos, e era uma pequena dor sempre que percebia um pouco dela dando adeus. Sabia que, muito provavelmente, poderia detê-la, mas faltava-me ânimo e coragem para impedi-la de ir embora. Lamentava a partida dela num impulso de ausência, num suspiro. Apenas a deixava partir, e não queria e nem me atreveria a conquistá-la. Ela era para mim uma ameaça.
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