Quando eu era da sétima série, aos meus 13 anos, uma professora me chamou a atenção para uma profecia. Estava eu apresentando um trabalho de Física, utilizando a minha boa e velha técnica de concentrar minha atenção na parede ao fundo da sala para não sentir a presença de todas aquelas pessoas, quando, logo depois da apresentação do nosso grupo, ela falou:
- Essa menina vai ser professora! - disse apontando o indicador e os olhos azuis para mim. Lembro de já ter temido muito aqueles olhos azuis cheios de rigidez, cobranças e certezas.
Ela sabia, mais do que eu mesma, o que eu realmente queria. Desde pequena, divertia-me dando aulas para alunos invisíveis, escrevia n0 quadro, falava em voz alta como se houvesse pessoas a me ouvir sentadas nas cadeiras vazias ao meu redor.
Achava linda essa profissão. Contudo, outras pessoas não compreendiam o porquê de eu querer tanto ser professora. Afinal, professor ganha pouco e tem de aguentar alunos descompromissados. Quando, ainda no segundo ano, eu refletia sobre qual curso deveria escolher, minha mãe sempre sugeria que eu fizesse Direito, mesmo dizendo que eu escolhesse a profissão com a qual eu me sentisse feliz.
Certa vez, tive uma conversa com uma professora de Redação que morava no mesmo condomínio que eu. Contei a ela sobre minha intenção de cursar Letras Português. Ela tão logo se pôs a contestar minha decisão, disse que se tratava de uma carreira muito dura e que não trazia muito retorno. Ela, assim com minha mãe, me aconselhou a estudar Direito, pois era uma carreira muito compen$adora.
No meio de tanta gente que me dizia para eu não ser professora, comecei a formular outras possibilidades. Entretanto, tudo me conduzia a ser professora: pensava em fazer Física, História, Ciências Sociais... No fim das contas, terminei por escolher Jornalismo, sem saber ao certo o motivo. Talvez porque Jornalismo parecia ser um curso muito abrangente, e eu queria estudar uma variedade de assuntos. Ah! Lembro de uma revista que uma colega minha me emprestou com informações sobre os mais diversos cursos, a exemplo de mercado de trabalho, universidades, matérias, e o Jornalismo me chamou a atenção por ser bastante diversificado, pois apresentava estudos que tocavam a Filosofia, a Sociologia, a Economia, a História, etc. Enfim, em Jornalismo a gente aprendia um pouco de tudo (em alguns casos, tudo de nada, como disse um professor certa vez).
Hoje em dia, às vésperas de concluir meu curso, sei que meu negócio mesmo é ser professora. Para tanto, pretendo seguir carreira acadêmica. Não que eu não goste da aventura da reportagem, de conversar com pessoas tão diferentes, de sair para a rua para tentar descobrir um pedaço do mundo. Isso tudo me atrai bastante. Entretanto, sei muito bem qual é o meu lugar. Posso vir a trabalhar como jornalista, mas minha paixão mesmo é a pesquisa e a sala de aula.
Um dia quero ser professorinha. Lembro com carinho do prenúncio da professora de Física, que, ao que parece, irá se cumprir. Estudar coisas incríveis, de que eu realmente goste, dar aula por pura paixão... mesmo às vezes lidando com algumas dificuldades estruturais e com a má vontade de alguns alunos, ou ainda tendo de superar minhas próprias limitações. O mais importante é fazer aquilo que eu gosto, porque, para mim, a vida sem paixão não faz sentido.
Um comentário:
Minha paixão sempre foi pessoas. Histórias, das mais diversas, me fascinam. Também ia prestar vestibular para Direito, mas logo pensei em fazer Psicologia, só para poder ouvir histórias. Mas dentro do gosto pelas duas áreas, vi que Comunicação Social abrangia de tudo um pouco: desde (me) informar sobre os direitos e deveres que cada indivíduo tem à ouvir cada história..
Mas, independente de qualquer coisa, acho que a área da Comunicação e da Mídia em si - estudar e trabalhar nela - é um desafio constante. E é essa a maior paixão de todas. Não me imagino fazendo outra coisa, como sendo secretária ou caixa de banco. Preciso de emoção.
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