quinta-feira, julho 24, 2008

(L)

Um dia desses meu irmão estava muito triste. Coisa rara, posto que meu irmão não é pessoa de ficar cabisbaixa nem de reclamar da vida. Mais tarde soube que ele estava de luto pela morte de um amor virtual. Naquela época achei aquilo muito estranho.

Era uma menina muito bonita. Alguém haveria deixado no seu perfil um lembrete de que ela havia morrido de acidente de carro. Meu irmão me mostrou uma série de fotos da menina que ele guardava no computador, e comentou, olhando para mim na espera de uma definitiva e verdadeira resposta:

- Ela era um fake, não?

Suponho que sim. As fotos eram muito bem trabalhadas, pareciam retiradas de alguma publicidade, coisa de modelo. Meu irmão confessou que adorava conversar com ela, que os dois se falavam todos os dias. Disse ainda que achava estranho o fato de uma mulher tão bonita ser tão carente. É, eu falei a ele que geralmente as mulheres e homens bonitos têm muitas pessoas ao seu redor e não reclamam por tanta atenção.

Mentira. Conheci gente muito bonita que passa horas conversando e tentando ser do jeito que se é. Outra colega se apaixonou por um espanhol. Eles se vêem todos os dias... pelas lentes da webcam.

Por quem você se apaixona quando seu amor é virtual? Conheço uma moça e um rapaz, os dois amigos virtuais meus, que viajaram quilômetros para finalmente se conhecerem. O relacionamento deles dura até hoje e a paixão é fulminante.

Voltando à pergunta, por quem você se apaixona, se você não conhece a pessoa? São imagens fugidias, que despertam a sua curiosidade, nunca se tornando um corpo. Uma imagem se soma à outra, e você constrói um corpo. Algumas características se repetem entre as diversas fotografias. E a personalidade? Há as comunidades, que apontam o gosto, alguns defeitos e até mesmo angústias. Diversas semelhanças... Existem os depoimentos, que são o que aquela pessoa é segundo o que seus amigos dizem... Os amigos podem ser profundos, ou quem sabe escrevem apenas qualquer baboseira. Depende.

Aí então tem gente que vende seus pertences para ir pra bem longe... Há pessoas, como um conhecido da minha mãe, que viajou de lá da Alemanha para o Brasil para encontrar o seu grande amor. Se esses amores dão certo? Dão tão certo e tão errado quanto qualquer outro. Mas, de certa forma, são bem mais apaixonantes.

5 comentários:

Anônimo disse...

tá apaixonada é?

Danilo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Danilo disse...

Tem toda razão. Um dia, no futuro, as pessoas ainda vão achar muito estranho o hábito das pessoas terem sido obrigadas, no passado, a terem que namorar, casar e passa o resto da vida com alguém que conheceu no trabalho, na vizinhança ou na faculdade. O trabalho, a faculdade ou a vizinhança é um espaço amostral muito restrito para achar a pessoa mais interessante do mundo – tem que ser a mais interessante do mundo; é o que se procura, senão não tem graça. O relacionamento virtual é mais seletivo, eu acho; e nessas horas não há nada mais importante do que ser seletivo.

Um abração. Fazia tempo que eu não comentava nada aqui. The old jerk strikes again. O comentário excluído pelo autor é esse adicionado de correção ortográfica.

tatiana hora disse...

cara, eu não tinha pensado nisso.
ótima sacada esse lance do "espaço amostral"...
perfeito, perfeito kkkk
:***

Anônimo disse...

Pensei a mesma coisa sobre o "espaço restrito" (como o colega acima falou, "espaço amostral").

É o que a gente tava conversando ontem.. essa porra desse cabresto que faz a gente não olhar pros lados. E nem pro mundo.

E esse anônimo daí eu tô desconfiando até de quem seja. hahahahaha!
:X