quarta-feira, maio 21, 2008

É de lei: toda vez que perguntam "do que você gostou mais? do filme ou do livro?", a resposta é "do livro". As pessoas enchem o peito e deliciam a boca dizendo que adoraram, acharam fantástico, sem comparação o livro, e que o filme não chega nem aos pés do texto literário que o inspirou. Já me fizeram essa pergunta várias vezes, e eu sempre tive meio que preguiça de responder, pois isso poderia incorrer numa interminável discussão, o que às vezes me causa fadiga, como diria Jaiminho, mas a questão é: "Um filme e um livro - bem, são duas linguagens, duas formas de narrar bem diferentes".

Pelo fato de serem duas linguagens completamente diferentes, na minha perspectiva, podemos falar de boas versões para o cinema ou versões problemáticas, mas nunca tratar sobre o que é melhor, o filme ou o livro. A questão aqui não é apedrejar quem gosta mais de literatura do que de cinema, ou maldizer quem teve bom senso ao reconhecer um filme péssimo numa adaptação de obra literária para o cinema. O problema de que estou falando está inserido num outro contexto: o cinema ainda é visto como arte menor, como mero entretenimento, enquanto os livros guardam em suas páginas toda a sabedoria do universo; ou o mundo dos livros é um reino em que a imaginação pode viajar à vontade, já o cinema é o lugar da assimilação fácil e evasiva das imagens e uma prisão aos desígnios da criatividade do espectador.

Ainda acho que a gente pode criar - e muito - vendo filmes. Penso que é possível exercitar a imaginação e a reflexão assistindo a (certas) obras cinematográficas tanto quanto diante de um livro que nos desafia. Ambos serão arte, na minha opinião, quando nos fizerem criar junto com a obra, e não se mostrarem um produto descartável e ilusório - assim como aqueles produtos que vemos reluzirem nas vitrines.

2 comentários:

e.m. disse...

provocando: o que exatamente ele quis dizer com "tudo que é sólido desmancha no ar", e sobre o quê?

nossa tradução está errada, não seria desmancha, mas "torna-se".

bom, vc viu que parto do contrário né? não é minha filosofia, mas, uma dissensão com aquilo que não é mais... o.O

mas, esqueça tb, kkk

e.m. disse...

ah, engraçado que qdo muitos dizem "o livro", basta perguntar: e aí, o que achou de diferente? A resposta é tão evasiva... tsc.

Gosto dos dois. Qdo o livro me deixa sem imaginação, confuso, ou sentindo-se um idiota por não acompanhar a imaginação frutífera do autor, o filme complementa e vice-versa. Exemplo bom é o filme filadélfia, adaptado do livro de mesmo título, mas, graças ao filme entendi o livro!!

Meu amigo, Michel De Certeau, diria: caminhar pelos lugares é alg o como enunciar palavras, apreende-se pelo olhar!

ótimo texto! já vale um artigo!

:***