Um determinado jornalista daqui do meu estado é o manda chuva de um jornal que, caso você torcer, sai sangue. Diante da revolta de um repórter que havia escrito uma matéria nos trinques, mas que logo depois teve seu árduo trabalho convertido pelo editor num monte de asneiras sensacionalistas, o nosso ganancioso jornalista emitiu a seguinte frase:
- Vai vender como água!
E vendeu mesmo. Daí que a gente se pergunta se o "povo" (quem é o povo?) quer isso mesmo. Se quer, toma, não é assim? Entretanto, sei que o grotesco desperta uma curiosidade cruel no ser humano, mas é preciso ter cuidado ao achar que a "opinião pública" (quem é a opinião pública?) é estúpida.
Jornalista tem mania de achar que sabe o que o "povo" quer. Eles chamam isso de "interesse público". Algumas vezes o tal do "interesse público" é, em verdade, o que um determinado grupo político quer. Ou o que a vontade de ficar rico do dono do jornal deseja.
Não bastasse a arrogância de dizer que o "povo" precisa disso, ou o que a "opinião pública" pensa daquilo, eles ainda se auto-intitulam formadores de opinião. Ainda estão no tempo da teoria hipodérmica e acham que há uma equação muito fácil na relação mídia e cidadãos: o que passa na TV, no rádio ou no jornal é aceito pelo "povo" como verdade. Mas jornalista não é formador de opinião coisa nenhuma: ele, no máximo, pode contribuir para o espectador ou leitor pensar de determinada forma sobre um certo assunto. Se jornalista fosse formador de opinião, ninguém teria opinião: só eles.
Esse profissional, o jornalista, também acha que é o dono da verdade. Diz isso para obter credibilidade junto ao seu público, pra vender muito jornal, como quem oferece uma mangaba boa na feira. A notícia boa, fresquinha, pra ser comprada nas bancas, é a notícia verdadeira. Sei que é complicado dizer que qualquer jornalista pode dizer qualquer coisa por não ter compromisso com a objetividade. Entretanto, acho que o grande problema da mídia não é ser objetiva ou não, mas sim a concentração dos meios de comunicação nas mãos de políticos e magnatas da imprensa. A grande questão que precisa ser resolvida, pra mim, não é a eterna discussão sobre a objetividade, mas a democratização da mídia. Acho que mais vale um amplo debate com múltiplos discursos nos meios de comunicação promovido por diversos segmentos da sociedade, do que a preocupação sobre se a Globo está dizendo a verdade ou não.
No mais, eu tenho a infelicidade de ser um projeto de jornalista. E já me peguei falando em "interesse público" e em imparcialidade. Agora espero, francamente, sempre problematizar essas questões, e não virar "formadora de opinião" que acha que sabe tudo sobre o mundo e a "opinião pública".
- O que as pessoas vão pensar?
- O que eu quiser que elas pensem - respondeu o empresário da comunidação Charles Foster Kane em Cidadão Kane (1941), de Orson Welles.
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