segunda-feira, janeiro 04, 2010
Lula, o filho do Brasil (2009), Fábio Barreto
Dizer que Lula, filho do Brasil (2009), de Fábio Barreto, não tem nenhum mérito artístico é tão clichê quanto o próprio filme. Afinal, nem eu, nem ninguém (acredito) esperava um Terra em transe , nenhuma alegoria glauberiana da vida sobre os problemas de governabilidade do governo Lula. É claro que vanguardismo estético e político são totalmente opostos à obra feita pela Globo Filmes e patrocinada por empresas interessadas em eleger o PT novamente.
Ironicamente, o filme, que começa com a trajetória do pequeno Lula e sua família no sertão, é influenciado por Vidas secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos, clássico do Cinema Novo. Da obra de Nelson Pereira baseada no livro de Graciliano Ramos, o filme de Fábio Barreto herda a incomunicabilidade da família, a presença de um cão que lembra a cadela Baleia, o tédio evocado pelas paisagens do sertão - tédio e incomunicabilidade que, se Nelson Pereira explora através da dilatação temporal, em Fábio Barreto a trama tem que andar logo e a passos largos.
O filme de Fábio Barreto, aliás, é repleto de situações conectadas de maneira extramamente forçada, empurrando a narrativa de maneira às vezes patética. Um dos centros da trajetória do herói Lula é a sua relação simbiótica com a mãe Lindu, a quem ele dedica a sua vitória nas eleições e a quem o diretor dedica o final do filme. Nisso Fábio me lembra o Bruno Barreto em Última parada 174 (2008), outro filme de narrativa muito densa e preocupado com a relação afetiva entre Sandro Nascimento e sua mãe. Em ambos os filmes o carinho materno é o elemento que retira o filme das problemáticas sociais e o puxa para o universo individual.
É a mãe de Lula quem mais se incomoda com o seu envolvimento com o sindicato. O drama familiar pelo qual passam os sindicalistas já havia sido abordado antes por Eles não usam black-tie (1981), de Leon Hirszman. O diretor Leon Hirszman dirigiu também o documentário ABC da Greve (1990); outros documentários sobre as greves no ABC paulista foram Linha de montagem (1982), de Renato Tapajós e Greve!(1979), de João Batista de Andrade, todos filmes financiados por sindicatos que, ao abordar as greves dos metalúrgicos realizadas em tempos de arrocho salarial da ditadura militar, terminam por deter-se sobre a figura de Lula como lider político carismático.
Esse líder que foi ovacionado por Pedro Bial quando na sua vitória nas eleições 2002 no Fantástico (programa da mesma Globo que produziu o filme em questão e que editou de forma manipuladora aquele debate, lembram?), é o Lula que, segundo João Moreira Salles, sempre foi o mesmo. O João Moreira Salles, que dirigiu o documentário sobre a campanha presidencial de Lula em 2002, Entreatos, afirmou certa vez que aqueles que afirmam que Lula mudou muito desde que abandonou a roupa e a barba de sindicalista e passou a usar o terno, na verdade entenderam tudo errado, pois Lula é o mesmo. Podemos ver isso claramente na cena de Entreatos em que Lula fala que detestava usar macacão de metalúrgico e só quem não sabe o quanto aquilo é quente e incômodo é que o critica por vestir terno.
Esse Lula aparece discretamente no filme de Fábio Barreto. A montagem situa duas cenas em sequência: uma em que Lula fala com aquela postura brava e a roupa suja, outra em que ele está mais brando e de terno. Por mais que reclamem que o Fábio Barreto não mostra a trajetória política de Lula pós-1979, incluindo a fundação do PT, esse Lula de terno falando que "o patrão não é inimigo nosso, afinal, é o patrão quem paga nosso salário", já é um prelúdio do Lula que ganhou as eleições presidenciais.
No mais, Lula, o filho do Brasil é até divertido (pelo menos foi pra mim), mesmo sendo um filme ruim, novelesco. Se a trilha sonora às vezes irrita de tão melodramática, vou confessar que adorei ouvir Tim Maia como tema do romance do Lula com a esposa (sou fã do Tim Maia, portanto, suspeita para falar). Mas eu juro que não merecia ver...
- A cena em que o personagem de Lula ganha o diploma de torneiro mecânico do SENAI diante de uma mãe emocionada e chorosa. Fica parecendo (é quase certo) que o SENAI, um dos patrocinadores do filme, mandou incluírem essa cena.
- Aquela fusão da imagem do rosto de Lindu/mãe de Lula/ Glória Pires com a carta que estava sendo lida para ela.
- O close da boca do Aristides/ pai de Lula/ Milhem Cortaz que salta para a imagem do rosto de Lula criança chorando, criando uma tosca alusão imagética ao alcoolismo do pai que provocava sofrimento na criança.
- O flashback produzido a partir da foto que a mãe de Lula contempla enquanto está doente, foto dos filhos pequenos no sertão. Flashback a partir de foto é o artifício mais manjado, utilizado pelos roteiristas de primeira viagem que não sabem contar uma história de outra maneira mais complexa.
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3 comentários:
Concordo com cada palavra que o rapaz aí de cima escreveu!
Concordo apenas em parte. Análise um tanto exagerada.
Aff gosto doq escreves, mas isto foi realmente ruim, vc expressou uma opinião política extremamente de direita, em nenhum momento foi neutra e seu objetivo desde o início foi bombardear "seguidores" da esquerda.
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