segunda-feira, janeiro 31, 2011

Socialismo e democracia

Alguns dizem que o twitter é inútil. Não é. Minha timeline apresenta os mais diversos tipos de minitextos em 140 caracteres: BBB, futebol, política, música, etc. O twitter é lugar pra descontrair, falar abobrinha, mas acredito que é principalmente um lugar para se discutir assuntos referentes à coletividade. E ontem eu assisti a uma verdadeira aula online de Wilson Gomes, um grande analista e crítico de Habermas e pesquisador na área de Comunicação e Política. Confiram as diversas tuitadas do professor sobre socialismo e democracia:

A grande lição política do século XX foi q entre ter justiça política (democracia) e justiça social s/ justiça política, a escolha foi óbvia.

Socialismo não é democracia: socialismo é um sistema de produção de justiça social; a democracia é um sistema de equidade política.

A democracia foi criada com base na igualdade da dignidade política (justiça política) e para tomar decisões políticas a partir desse princípio.

O socialismo surge como um sistema para a produção de justiça em outro nível (no da produção material da vida, como diz Marx).

Para os socialistas, a democracia (chamada de "democracia burguesa") era oca e falsa porque propunha justiça política sem igualdade social.

Os socialistas do séc XIX acreditaram que garantida a igualdade econômica, tudo o que a igualdade política visava garantir estaria dado.

O resultado foi que o socialismo foi desenhado para garantir igualdade social por meio da distribuição justa da produção.

Mas o socialismo não foi projetado para garantir igualdade política nem o seu corolário básico: liberdade.

Não há nada de mal em um sistema social não poder produzir tudo: a democracia, por exemplo, não é capaz de garantir igualdade social.

O lindo do socialismo era a ideia de que poderia produzir igualdade social e por fim à exploração do homem pelo homem.

Resumo: a linda ideia do socialismo fracassou no século XX por ser incapaz de produzir riqueza e de produzir/manter igualdade politica.

Testado no laboratório das sociedades reais, o socialismo só pode (passado) produzir igualdade social sobre o cadáver da igualdade política.

Não sei nada de essencial, se poderia ter sido diferente, se havia outro meio, se aquilo não foi socialismo real; só sei que foi assim :)

Mas concordo que uma democracia saudável desencadeia forças que atacam a desigualdade (e iniqüidade) social.

Por fim, quero dizer q o fim (ou crise, para outros) do socialismo no sec XX nos deixou s/ um sistema especializado na produção de igualdade.

E isso é de se lastimar. A combinação de democracia política com liberalismo ecnonômico é capaz de conviver com certo grau de desigualdade.

Acho que a meta conseqüente para uma esquerda pós-socialista passa necessariamente por forçar a democracia na direção da igualdade.

Por tirar todas as conseqüências possíveis das premissas da igualdade e da liberdade que constituem a democracia liberal.

Ingênuo é achar, por outro lado, que qualquer sistema voltado para produzir igualdade política seja, por isso, pró-democracia. Não é!

Chávez fez coisas para reduzir a desigualdade social brutal da Venezuela? Ótimo. Mas isso não tem nada a ver com democracia.

E, ao contrário, ele faz isso ao mesmo tempo em que ataca ferozmente a justiça política e a liberdade. Rumo à autocracia.

Há um engano comum, em se confundir participação popular ou civil com democracia. Ou achar que participação é melhor que democracia liberal.

Ora, a participação civil pode ser para o bem (exercício de soberania popular) ou para o mal (como em todos os fascismos).

A participação popular freqüentemente foi anti-democrática, como nos populismos de massa e nos fascismos do século XX.

No laboratório de Chávez, p. ex., usa-se a participação popular contra as instituições intermediárias (ex. Parlamento) democracia liberal.

Ora, isso ñ tem novidade. Hitler e Mussolini atiçaram a massa contra Parlamento, partidos e outras instituições "burguesas" até aniquilá-las.

Para depois estabelecer uma forma de governo em q há apenas O Líder e O Povo, sem mediação, controles intermediários ou divisão de poder.

Quando a imprensa sergipana morde a língua: a informação e o mercado de violência

Publico aqui o texto muito interessante que um amigo militante do Psol escreveu e me enviou hoje.

*

Quem acompanha as manchetes do periódico Cinform já está familiarizado com o que há de mais nefasto e escatológico na imprensa sergipana. “Castração de estupradores: Uma idéia que dói nos bagos!”, “Pipita é mandado ao quinto dos infernos”, “Vagabundo mata pai a facadas!”, estas e tantas outras frases imbuídas de amor, candura e sangue, compõem o acervo mitológico daquele jornal semanal de maior tiragem de exemplares no estado de Sergipe.

As frases em negrito e as imagens “atraentes” evocam a atenção de todos nas manhãs de domingo e segunda-feira, nem precisa ler de fato o jornal ou acompanhar assiduamente a imprensa sergipana, basta passar perto de alguma banca de revista ou parar um instantinho no sinal vermelho, e lá estará uma capa do Cinform exalando enxofre e vomitando xorume. Alguns ficam atônitos, outros se excitam e muitos embrulham o estômago, este que já se encontra fragilizado devido à tradicional ressaca de segunda-feira, catalisada pelo chacoalho indescritível dos ônibus velhos e decadentes de Aracaju. Obra para Quentin Tarantino nenhum botar defeito, não é?

A manhã desta segunda-feira não poderia fugir do habitual, da espetacularização previsível de sempre. Já no finalzinho da curva para atravessar o mês de Janeiro, o povo sergipano se depara com uma imagem da dona de casa Simone Vieira Soares, de 40 anos, vítima de lesão corporal praticada por seu ex-amante na última semana, mostrando parte de sua língua mordida e arrancada no destaque da primeira página do periódico. Degradante, imoral, inaceitável! Palavras e mais palavras, indignação e muita massa cinzenta para queimar.

Como chegar a tão baixo nível, como é possível desrespeitar, desconsiderar por completo a dignidade e integridade moral de um ser humano de forma tão naturalizada, normatizada e carimbada? Sabem por quê? Porque vende “que nem água!”, e quem paga a conta escolhe a música. Importante ressaltar que a espetacularização da notícia não é privilégio do Cinform na imprensa sergipana, verdade seja dita. Quase todos os veículos da mídia “Serigyana” trabalharam o tema na base do espanto e do espalhafato. Porém, nenhum setor da imprensa sergipana atingiu tão elevado nível, galgando o verdadeiro “nirvana” às avessas da informação e do jornalismo de açougue.

Olhem que eu não estou falando do conteúdo original da matéria, do texto do jornal, produzido pelo repórter do Cinform. Precisamos dissociar a “instituição imprensa” do trabalhador da comunicação, do jornalista, do radialista que está vendendo a sua força de trabalho a serviço de uma determinada política editorial, envolvendo muitas vezes casos de assédio moral, censura prévia e desrespeito de seus direitos trabalhistas. Inclusive eu quero estender de antemão minha solidariedade ao repórter responsável pela matéria que, apesar de todo o trabalho de escutar as fontes e reproduzir suas versões, apurar e checar as informações, da preocupação em escrever e formatar um bom texto para o povo sergipano, este jornalista viu todo o seu trabalho ser ofuscado por uma escolha editorial apelativa e mercantilista da direção do jornal, tanto pela escolha da foto quanto pelo destaque que esta teve na capa do jornal. Uma imagem fala mais alto que mil palavras, mais do que tantos caracteres quiser, e foi ela que deu o tom da matéria do Cinform, por mais que o texto escrito possa apontar o contrário.

Esta escolha editorial do Cinform não é nenhuma reinvenção da roda. A história da imprensa já apresenta estas medidas desde muito tempo, desde o surgimento do modelo “Penny Press” no século XIX até as experiências brasileiras do “jornalismo marrom”.

Estas experiências escancaram de forma brutal o caráter mercadológico da produção das informações. A notícia, no modelo de comunicação comercial, é formatada não pelo interesse público, mas por seu apelo à venda e pela política editorial do jornal, sem cair nesta baboseira infantil de defesa da imparcialidade. Imparcial e neutro é só sabão glicerinado!

Como discutir de forma profunda a questão da violência contra a mulher, tão gritante em Sergipe e no Brasil, como colocar a pauta das relações de gênero, a aplicação da lei Maria da Penha, a estrutura das delegacias especiais para grupos vulneráveis, a promoção de direitos e a auto-organização da sociedade civil, quando temos uma imprensa condicionada a vender a língua de quem quer que for para aumentar suas tiragens? Este é o papel da imprensa? Onde está o direito à informação e a comunicação?

Há um vertiginoso corte de classe nesta medida, na formação desta política editorial. Por exemplo, se a dona de casa Simone pertencesse à alta sociedade, fosse dona ou acionista de uma das empresas anunciantes do jornal (quem paga a conta escolhe a música, guardem isso!) ou exercesse atividade política institucional (fosse deputada, secretária de estado, etc), vocês acreditam mesmo que a sua imagem apareceria da forma como apareceu? De forma alguma! Aposto duas cervejas e uma porção de batata rústica do “Tio Maneco” como o tema seria tratado de forma distinta neste caso.

Por acaso algum veículo da imprensa nacional apresentou o quadro de saúde do vice-presidente José Alencar, debilitado há anos por um câncer no intestino, de forma escatológica, jogando imagens de cunho apelativo e ofensivo, apresentando o vice-presidenciável prostrado em uma cama com os pontos abertos do abdome? Não? Quando o atual governador Marcelo Deda esteve enfermo durante o seu primeiro mandato, algum veículo da imprensa sergipana, por acaso, publicou qualquer imagem do governador em meio à quimioterapia, aos processos de recuperação e cura do tumor ou seja lá o que for? Não mesmo! Não publicou e nem deve publicar, pois a dignidade da pessoa humana deve ser resguardada e respeitada em qualquer hipótese, seja de quem for.

Agora, quando se trata de enquadrar os conflitos oriundos das classes populares, no intuito de fazer da notícia um espetáculo banhado a sangue, aí o negócio é liberado? Na hora de publicar a imagem de um paciente do Hospital de Urgência de Sergipe agonizando nas macas, expondo o ser humano em estado de completa fragilidade, aí pode mesmo? Transformar as agonias do povo sergipano em produto, em valor mercadoria e tratar da forma como bem entender está correto? É esse o modelo de comunicação que o povo sergipano precisa?

O direito a informação e a comunicação, tal como a liberdade de imprensa, é um elemento fundamental para garantirmos a efetivação de direitos e cidadania. Nós nunca teremos uma comunicação livre, democrática e plural, que respeite e valorize os trabalhadores da informação se não repensarmos este modelo de comunicação sujeito à espetacularização, à violência e à ausência de direitos.

Henrique Maynart é jornalista, comunicador popular e militante pela democratização da comunicação

Opiniões não valem nada

Calma, o título é só pra fazer gracinha. Claro que acho que diversas opiniões valem alguma coisa (ou muita coisa). Opiniões sobre política, por exemplo, política é o que há de mais discutível no mundo, e inclusive a essência da política é a discussão. Mas existem opiniões que, na minha humilde opinião, não valem nada. São aquelas que dizem respeito a pessoas. Seres humanos não foram feitos para serem discutidos, gente.

É por isso que eu dou vivas, eu estendo meu tapete vermelho no chão, eu peço a bênção a pessoas que encantadoramente não falam sobre outras pessoas, não dão pitaco na vida alheia, não criticam quem você é nem o que faz ou deixa de fazer. São para mim um exemplo de vida!

Há pessoas que preferem falar de tudo: política, música, cinema, literatura, futebol, televisão, comida, menos de pessoas. Se alguém faz um comentário maldoso sobre Fulana - ar blasé. Se você paga um mico - indiferença. Se você faz alguma besteira - "não é da minha conta". Se você gosta de "filme de arte" - unrum. Se você gosta de arrocha - unrum. Se você conta um causo sobre a vida de alguém - BORING.

Vocês, pessoas que não tem nada a dizer sobre pessoas, são o máximo. Um dia eu quero aprender a ser como vocês! Porque há coisas mais interessantes no mundo do que se preocupar com o que as pessoas são ou fazem!

domingo, janeiro 30, 2011

Ver, sentir


Ao assistir hoje a Síndromes e um século (2006), de Apichatpong Weerasethakul (vulgo Joe), eu fiquei emocionada em três sentidos. Primeiro quanto às suas elocubrações a respeito da transmigração das almas, ou mesmo de um eterno retorno, que surgem como questões que perpassam dilemas de seus personagens, e jamais se configuram como respostas fáceis a dilemas sobre o mundo. Tocou-me o relato que o monge faz sobre um sonho em que finda se transformando numa galinha, como também fiquei impressionada com a cena em que um médico diz que um monge parece deveras com seu falecido irmão, que morreu após ele obrigá-lo a ter coragem de subir numa árvore, e revela ao monge que chega a achar que ele seria a reencarnação do irmão. A identificação foi certa pelo fato de até hoje eu ter experiências muito intensas com o sobrenatural em sonhos, bem como por ter ouvido na adolescência sons que aparentemente eram produzidos por fantasmas. Em outro sentido, eu não sei lidar com a morte - e quem sabe? Chocou-me a cena em que uma mulher afirma que os obstetras lidam com a vida, os oncologistas com a morte, e os hematologistas com a dor. O câncer é uma doença que me assusta e muito - não sem motivo, perdi dois parentes queridos, e me assombra também a possibilidade de ter tal doença um dia. E não sei porque eu me lembrei de Hiroshima mon amour (1959), Alain Resnais, na cena em que uma mulher pede ao seu amante para que se transfira para outra unidade médica, que ela considera mais "moderna". E enxerguei nas fotos do hospital em construção lembranças dos escombros de Hiroshima que aparecem nas imagens de Hiroshima mon amour... Acho que esse filme mexeu muito mais com meu lado irracional do que com o que há de racional em mim! Mas a imagem que me marcou mesmo deste filme foi a do eclipse... Lembrei que certa vez vi um filme que se passa na Idade Média, em que um homem iria provar que tinha poderes sobrenaturais afirmando que taparia o sol - mas ele já sabia que naquela data haveria o eclipse. Não lembro qual é o filme, não tenho sequer uma imagem marcante desse filme, mas o rememorei lá no fundo da lembrança numa centelha de imagem fugaz...

sábado, janeiro 29, 2011

Acontece

Meio estranho descobrir que uma pessoa que te odiava, te maldizia, te maltratava, na verdade nutria uma paixão ensandecida e reprimida por você. E que tem surtos de admiração e hostilidade até hoje. É no mínimo absurdo descobrir que tudo não passava de ciúmes e de tentativas frustradas de chamar a atenção. Às vezes as obsessões são travestidas de desprezo. E eu que achava que já tinha visto de tudo no mundo... Vi nem metade!

O homem da minha vida

Quando descobri que aguardava a chegada da pequena,
eu temi
Não era você o homem da minha vida
Na verdade, o que me uniu a você foi a vontade de ser amada

Mas então fomos ficando cada vez mais juntinhos
Primeiro porque tive medo de criá-la sozinha
Segundo porque seu cuidado e carinho me fizeram acreditar
que você era o homem da minha vida

Hoje eu já não entendo mais porque acordo do seu lado
Às vezes eu me viro só para não olhá-lo
Ou invento a desculpa de que preciso dormir com a pequena
e disponho na cama almofadas, pequeninos lençóis, brinquedos
E assim você vai dormir n
o sofá

Pergunto-me enquanto a pequena suga o meu peito,
se os meus seios não são mais do que o alimento dela,
se eu não sou mais mulher, apenas mãe

Você gosta de tê-la nos seus braços,
e diz que é apaixonado pelas suas enormes buchechas
Mas você ainda pode tomar cerveja
Você talvez até vá para o carnaval

Mas estou fazendo a coisa certa:
estou cuidando desta casa,
estou lavando as panelas

E você?
Você não é o amor da minha vida
Você é o pai da minha filha
E isso me basta.

sexta-feira, janeiro 28, 2011

Pra fazer feliz a quem se ama

"You... Soft and only
You... Lost and lonely
You... Strange as angels
Dancing in the deepest oceans
Twisting in the water
You're just like a dream"

"E até quem me vê
lendo jornal
na fila do pão,
sabe que eu te encontrei"

"E eu que era triste,
descrente desse mundo,
ao encontrar você eu conheci,
o que é felicidade, meu amor..."

As rochas ondulantes

O décimo capítulo de Ulisses, de James Joyce, denominado Rochas ondulantes, apresenta diversas passagens cada uma narrada por um personagem em particular, sendo o estilo de cada parte influenciado pela constituição do próprio personagem.

O primeiro narrador é o reverendo Conmee, que sai do presbitério para passear pela cidade. Padre Conmee reflete sobre a dedicação dos soldados e marinheiros envolvidos na guerra e se lembra das palavras do cardeal Wolsey: Se eu tivesse servido a meu Deus como servi a meu rei Ele não teria me abandonado na minha velhice. O reverendo cumprimenta diversas pessoas que passam por ele, a exemplo da senhora Sheehy e das crianças na frente da escola.

Joyce atenta para pequenos detalhes do cotidiano do padre Conmee, como o cheiro que ele sente de uma moça num carro, ou sua falta de jeito no momento de entregar a hóstia a um idoso na missa. O padre Conmee a missão africana e a educação espiritual das almas pretas, amarelas, marrons... Para o reverendo, já que todos os seres humanos foram feitos à imagem e semelhança de Deus, eles deveriam ser salvos para seguissem os seus desígnios e o adorassem.

A segunda passagem é bastante breve, tem traços homoafetivos, e se aproxima do universo do Sr. Corny Kelleher. Trata-se de um breve diálogo entre ele e um guarda, que lhe pergunta se tem novidades. Ao que Corny Kelleher responde, sussurrando: Eu vi aquele sujeito especial na noite passada.

Em outra passagem, algumas filhas de Simon Dedalus, Katey, Maggy e Boody Dedalus, tem uma discussão na cozinha sobre a falta de dinheiro e até mesmo a fome que elas passam após a morte da mãe, que deixou 15 filhos aos cuidados de Simon Dedalus.

Em outra passagem, Blazes Boylan prepara uma cesta de morangos numa loja, que seria para presentear uma inválida. Enquanto a atendente da loja, uma bela loira, preparava a cesta, Blazes Boylan mergulhou os olhos no seu decote, enquanto mordia uma flor vermelha.

Em outra passagem, encontramos Leopold Bloom folheando diversos livros numa livraria. Até que um livro em especial lhe chama a atenção: Doçuras do pecado. Ele logo deseja presentar a esposa, Molly Bloom, que ele suspeita que tenha um caso com Blazes Boylan, com o tal livro. Uma das passagens do livro Doçuras do pecado: Todas as notas de dólar que seu marido lhe deu foram gastas em lojas com vestidos maravilhosos e anáguas com babados caríssimos. Para ele! Para Raoul!

Em outra passagem, ocorre uma discussão entre Simon Dedalus e uma de suas filhas, Dilly. Simon Dedalus reclama da postura da garota, dizendo que ela vai acabar tendo problemas de coluna, até que, mais agressivamente, afirma: Você é como todas as outras, não é? Um bando insolente de putinhas desde que sua mãe morreu. Mas espere um pouco. Vou ignorar vocês todas por muito tempo. Sórdida patifaria! Eu vou ficar livre de vocês. Vocês não se importariam de me ver estendido duro no chão.

Noutro momento, vemos as elocubrações de Stephen Dedalus e o seu diálogo com a irmã Dilly Dedalus. Stephen, ao observar a irmã, pensa: Dizem que ela tem os meus olhos. Será que os outros me veem assim? Rápidos, distantes e atrevidos. Sombra da minha mente. Stephen vê a irmã lendo um livro didático da língua francesa, e ela confessa que está querendo aprender o idioma. Ele então comenta que praticamente todos os seus livros já foram vendidos, dada a péssima situação financeira em que a família se encontrava.

quinta-feira, janeiro 27, 2011

Superfície

Nunca em minha vida conheci um homem que falasse tanto
Falas muito e, no entanto,
Ouve-me com interesse tamanho,
tão grande quanto a tua vontade de me fazer te descobrir

Sei que mais do que gostar de falar,
tu gostas de palavras...
E produz um sutil prazer
vertendo-se na maravilhosa desenvoltura da tua linguagem

Tu, até mesmo quando estás em silêncio, é para revelar - posto que este encontro é necessário
Mas tu não queres produzir nenhum mistério
estás aí à minha vista
em tua inteligência ou fossa
em teu charme ou desleixo

E assim tu te desenhas um homem tão comum
que findo amando não tua essência,
mas, muito mais profundamente,
a tua superfície:
o teu modo de andar,
o teu gesto no olhar,
o teu perfume - só teu,
o teu soluço ao chorar,

e a tua mão pesada ao trepar,
e os teus livros empoeirados na estante,
e aquela camisa que tu mais gostas de usar,
e a comida que tu costumas comprar na esquina da tua rua.

Amo a tua superfície!
A tua essência eu deixo a cargo dos filósofos
E dos amores platônicos

E sei que tu gostas de estar na superfície -
por isso fala, fala,
confessa-me...
Diz-me não da tua essência,
mas da tua bela, banal, cotidiana,
divinamente humana
superfície!

quarta-feira, janeiro 26, 2011

Gargalhada


Certa vez, um rapaz com quem fiquei me disse que eu deveria conter mais minhas risadas, posto que eu ficava parecendo "uma boba". Quem me conhece sabe que eu dou muitas gargalhadas, alguma delas deveras escandalosas. Eu gosto de rir, de falar tolices. Quantos e quantos homens acreditam que nós mulheres temos de ser discretas e devemos rir o suficiente para parecermos felizes e satisfeitas, porém nada ousadas?Assim, é para ele e qualquer outro homem que não goste do meu jeito de me comportar que eu dedico este poema de Cecília Meireles:

Gargalhada

Homem vulgar! Homem de coração mesquinho!
Eu te quero ensinar a arte sublime de rir.
Dobra essa orelha grosseira, e escuta
o ritmo e o som da minha gargalhada:

Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!

Não vês?
É preciso jogar por escadas de mármores baixelas de ouro.
Rebentar colares, partir espelhos, quebrar cristais,
vergar a lâmina das espadas e despedaçar estátuas,
destruir as lâmpadas, abater cúpulas,
e atirar para longe os pandeiros e as liras...

O riso magnífico é um trecho dessa música desvairada.

Mas é preciso ter baixelas de ouro,
compreendes?
— e colares, e espelhos, e espadas e estátuas.
E as lâmpadas, Deus do céu!
E os pandeiros ágeis e as liras sonoras e trêmulas...

Escuta bem:

Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!

Só de três lugares nasceu até hoje essa música heróica:
do céu que venta,
do mar que dança,
e de mim.

Intuição

Sou uma pessoa muito analítica. E, por viver reparando em pequenos detalhes, gestos, expressões, palavras, eu vivo tendo intuições fortíssimas. Não é a arte de prever o futuro: é a arte de prestar atenção ao que está ao redor e ser sensível aos sinais que as pessoas lhe enviam. Eu não era assim sempre, passei a desenvolver isso depois de um tempo. E desde então não lembro de ter me enganado quanto a uma intuição sequer. Meu erro, na verdade, tem sido tantas vezes ignorar a minha intuição. É aí que o meu lado intuitivo vira pra mim e caçoa: eu te avisei.

Dia 28

Já estou de passagem comprada: parto de Aracaju para Belo Horizonte às 14h40 do dia 28 de fevereiro, em vôo conexão com parada em Salvador, chegando ao aeroporto de Confins às 18h30. Ou seja, falta praticamente um mês para eu ir viver uma vida nova em outro lugar. E já sei onde vou morar, e tive sorte, pois o apartamento que dividirei com duas outras moçoilas fica na cara da UFMG, bem perto da entrada que vai dar na Fafich, onde vou estudar. Ando tendo sorte e as coisas vão se ajeitando. O mundo tem me dito: tá vendo, pra quê essa agonia toda? Mas haverá algumas dificuldades, normal. No mais, mal posso esperar pelo momento em que pisarei em Belo Horizonte. O que será que vai acontecer nessa vida a mil? Ah, acho que há muita coisa boa, bem melhor do que nos últimos tempos, me espera por lá. Assim como muito mais dureza, muito mais "se vira". Tô chegando, BH, tô chegando...

terça-feira, janeiro 25, 2011

Noite de estréia


Desde os créditos iniciais, eu já sabia que iria me apaixonar por Noite de estréia (1978), do John Cassavetes, ao ouvir a voz rasgada de Gena Rowlands pronunciando candidamente as seguintes palavras:

Eles tem que ser amados. Eles querem ser amados. O mundo inteiro: todos querem ser amados. Quando eu tinha 17 anos, eu poderia fazer qualquer coisa. Era tão fácil, minhas emoções estavam tão próximas da superfície. E agora estou achando cada vez mais e mais difícil permanecer em contato.

Crianças

Quem me conhece sabe que eu vivo dizendo que não vou ter filhos. Mas a coisa mais engraçada nisso tudo é que não só eu sou apaixonada por bebês, como o mais grave: as crianças me adoram. Dia desses conheci a pequenina sobrinha de um amigo e tão logo ela se pôs a dizer que gostava muito de mim e que me achava bonita. Nas festas, às vezes meus tios entregam seus filhos aos meus cuidados e eu fico brincando com eles. Acho que muitas crianças gostam de mim por um motivo muito simples: eu tenho um jeito meio infantil, uma coisa meio bobona. E elas vibram, se identificam. Talvez num dia muito distante eu mude de ideia sobre ter filhos. Mas por hora e nos próximos anos: nem pensar.

Cila e Caribde

O nono capítulo de Ulisses, de James Joyce, Cila e Caribde, se passa na Biblioteca Nacional e envolve uma discussão entre o jovem poeta Stephen Dedalus e outros intelectuais a respeito da sua teoria sobre Shakespeare, como também sobre visões particulares quanto à relação autor e obra.

Um dos debatedores, John Eglinton, afirma que os irlandeses precisam criar um personagem com tanta força quanto Hamlet, do saxão Shakespeare. Ao que Russel responde afirmando que essas questões são frívolas, posto que a arte é universal e deve ser encarada como a expressão de ideias, referindo-se ao mundo das ideias de Platão, sendo tudo o mais uma tola discussão de escolares. Indo de encontro ao argumento de Russel, Stephen Dedalus declara que os próprios escolásticos foram escolares, tendo Aristóteles sido aluno de Platão.

Segundo Stephen Dedalus, o personagem Hamlet é inspirado em Hamnet Shakespeare, o filho do escritor, e a rainha culpada teria sido inspirada na esposa adúltera de Shakespeare, Ann Hathaway. Russel considera desnecessário saber sobre a biografia de Shakespeare para entendê-lo, posicionamento do qual Dedalus discorda. Ao falar sobre Ann Hathaway, Stephen Dedalus se lembra da própria mãe:

Leito de morte de minha mãe. Vela. O espelho coberto com lençol. Quem me trouxe ao mundo jaz ali, com pálpebras de bronze, sob algumas flores baratas. Liliata rutilantium. Eu chorei sozinho.

O bibliotecário da Biblioteca Nacional afirma para Stephen Dedalus que concorda com suas teorias sobre Shakespeare. Ele pergunta a Dedalus sobre a infidelidade da mulher do poeta, ao que ele responde: Onde há uma reconciliação, deve ter havido primeiro uma separação. Já John Eglington, Sr. Best e Russel testam todo o tempo a validade da teoria de Dedalus. A história da consubstancialidade entre pai e filho em Hamlet é comparada ao dilema da Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo.

Aquele Que gerou a Si-Mesmo por meio do Espírito Santo e Ele-Próprio se enviou, um Mediador, entre Si-Mesmo e os outros, Que molestado por Seus demônios, despojado de sua veste e açoitado, foi pregado como um morcego na porta de um celeiro, passou fome na cruz de lenho, Que se deixou enterrar, se ergueu, atormentou o inferno, se instalou no céu e lá nesses mil e novecentos anos se sentou à mão direita de Sua Própria Pessoa, mas ainda virá no último dia para julgar os vivos e os mortos quando todos os vivos já estarão mortos.

Stephen Dedalus conta que Shakespeare tinha três irmãos: Gilbert, Edmund e Richard. Dois deles deram nomes a pernagens perversos da obra de Shakespeare: Richard, o corcunda, e Edmund, o conquistador barato. Já o proprio nome, William Shakespeare teria escondido num Will palhaço numa peça, ou pintor...

Após o debate sobre a teoria de Dedalus a respeito de Shakespeare, Buck Mulligan afirma que encontrou Stephen Dedalus estudando literatura na companhia de duas prostitutas. E então os intelectuais se rendem à bebedeira.

segunda-feira, janeiro 24, 2011

Cuidado com a idealização

Então você sabe que idealizou uma pessoa e viu que não tinha nada a ver com o que você pensava. Que merda, né? Aí você se dá conta de que se bobear você vai cometer o mesmo equívoco com outro ser humano. Como proceder? Calma, não veja coisa onde não tem, Tatiana. Preste atenção ao que está na sua cara e esqueça o seu mundo da fantasia. Grata.

Prazer

Daquele prazer que é tão forte que você até sente dores nos ossos como se um animal te devorasse viva e realmente te devora viva algo tão forte que lhe dá tonturas e te faz tremer as pernas sem saber se aguentará mais segurando-se na parede e mergulhando a cabeça no travesseiro para conter os gritos enfia-me no travesseiro enfia-me e puxa o meu cabelo derruba-me da cama e trepa no chão até me deixar com feridas nos joelhos castiga-me porque te amo filho da puta.

domingo, janeiro 23, 2011

The thing

Tá aí uma sensação péssima essa que estou sentindo: a de que ninguém vai me entender, então não há ninguém pra compartilhar essa coisa, e portanto eu vou ter que me virar sozinha com a coisa. Aí eu guardo tudo aqui comigo e no mais são saídas, risos, piadas. Quando tantas vezes estou morrendo por dentro. Felicidade é, muitas vezes, a arte de fingir. Porque, na boa, se você observa a fundo certas situações, você afunda naquilo ali.

E assim eu vou fingindo...

quinta-feira, janeiro 20, 2011

O dia me disse

Hoje o dia está nublado
Faz tempo que eu e o dia não nos comunicamos
Algum sentimento me faz contemplá-lo
Talvez a saudade do mundo?
Não sei...

Sei que há nuvens tão sonolentas
Que terei sonhos cinzas esta noite
E as flores estão tão carentes de luz
E no entanto tão belas na sua ausência

Não voam os pássaros geralmente em bando?
Eu vi um pássaro sozinho
E logo depois o enorme pássaro criado pelo homem
levando pessoas...
para um outro lugar...
pessoas que devem estar dormindo,
ou olhando a paisagem da janela,
e esperando...
esperando...
esperando o tempo cruzar o espaço.

São ventos
ou fantasmas cantarolando na varanda?

As parabólicas catando imagens,
eu catando afetos,
a piscina do edifício vazia,
sem crianças em bóias,
sem mulheres tomando sol,
tantas janelas do prédio em frente fechadas!
E essa vida nublada,
minha alma solitária!

Penso que o dia me chamou
para dizer:
Tu, assim como eu,
não querias estar acordada...
e assim amanhecemos dormindo...

quarta-feira, janeiro 19, 2011

Vida transitória

Mais uma noite de insônia, tantas noites na rua para não ter de suportar a insônia em casa... E hoje estou aqui! Estava me entretendo vendo seriados americanos, antes Two and a half man, agora Friends, depois The big bang theory - sim, eu adoro seriados... Até que vi um livro pelo qual tenho imenso afeto... Pequenininho, Rua dos cataventos e outros poemas, meu Quintana de bolso que já me conquistou tanto carinho, tantas lembranças... E pensei, ah, preciso do Mario Quintana agorinha... Ele deve ter algo pra me dizer... E disse... Alguns versos de Poema transitório...

(...) é preciso partir
é preciso chegar
é preciso partir é preciso chegar... Ah, como esta vida é urgente!

... no entanto
eu gostava mesmo era de partir...
e - até hoje - quando acaso embarco
para alguma parte
acomodo-me no meu lugar
fecho os olhos e sonho:
viajar, viajar
mas para parte nenhuma...
viajar indefinidamente...
como uma nave espacial perdida entre as estrelas.

Tristeza e felicidade

Às vezes penso que sinto felicidade
Mas são apenas excessos de sensações
Às vezes penso que sinto tristeza
Mas são apenas ilusões desfeitas
E, ao fim e ao cabo,
tudo isso é tão somente fruto
do eterno desencontro entre o meu mundo e a realidade.

terça-feira, janeiro 18, 2011

Do que quero

Curiosamente, hoje estava a ler uns poemas do heterônimo Ricardo Reis, e percebi que deveria dedicar mais atenção a esse heterônimo de Fernando Pessoa (muitos sabem que meu favorito é Álvaro de Campos), até que encontrei este poeminha, com título parecido com o que acabei de escrever... E que fala por mim, no meu atual momento, coisa que não costumava pensar... Ah, Pessoa!

Do que quero

Do que quero renego, se o querê-lo
Me pesa na vontade. Nada que haja
Vale que lhe concedamos
Uma atenção que doa.
Meu balde exponho à chuva, por ter água.
Minha vontade, assim, ao mundo exponho,
Recebo o que me é dado,
E o que falta não quero.

O que me é dado quero
Depois de dado, grato.

Nem quero mais que o dado
Ou que o tido desejo.

O que eu quero

Eu não queria muitos amores
Nem muito dinheiro
Talvez só três cigarros
Uma dose de álcool
uns livros na estante
de algum poeta errante
E uns filmes à minha imagem e semelhança
que fossem imagens-lembranças
No mais,
eu estou feliz em ter o seu amor
Porque ele preenche a casa e o mundo
com o afeto e a solidão que eu preciso.

Os lestrígones

O oitavo capítulo de Ulisses, de James Joyce, segundo os comentadores, faz uma referência aos lestrígones de A Odisséia, cujo rei, Antífates, é um canibal. Nessa passagem, Leopold Bloom começa refletindo sobre a relação entre o cristianismo e o sacrifício, e termina rejeitando a ideia de comer carne no restaurante Burton, indo se alimentar de um sanduíche de queijo no Davy Byrne.

Enquanto Leopold Bloom, um judeu, caminha às margens de um rio, ele reflete sobre a violência da religião. Algo nietzscheano, é possível dizer. Nietzsche, enquanto um crítico do cristianismo, teceu em obras como O Anticristo a associação entre violência e religião, observando na prática do sacrifício, seja do cordeiro na páscoa, seja do Cordeiro de Deus, o seu próprio filho, uma paixão pelo derramamento de sangue. Seria então Antífates, o rei canibal, uma metáfora do próprio Deus?

Seus passos lentos o conduziram ao rio, lendo. Você está salvo? Todos estão lavados pelo sangue do cordeiro. Deus quer vítima sangrenta. Nascimento, hímen, mártir, guerra, fundações de um monumento, sacrifício, oblação de rim-queimado, altares druidas. Elias está chegando.

Ao cruzar uma esquina, Leopold Bloom vê uma das filhas de Simon Dedalus. Recorda que a mulher de Simon Dedalus havia falecido e deixado 15 filhos para ele tomar conta sozinho. Leopold Bloom acredita que o excesso de filhos tem a ver com o cristianismo dos Dedalus. Crescei e multiplicai. Onde já se viu uma ideia dessas? Comem tudo de você casa e lar. Eles mesmos não tem família para alimentar. Tudo do bom e do melhor. Suas adegas e despensas. Eu gostaria de vê-los fazer o jejum atroz do Yom Kippur.

Ao passar sobre uma ponte, Leopold Bloom lança uma bola de papel amassada para as gaivotas, que a ignoram. Então uma velha passa vendendo maçãs e bolinhos Banbury, e Bloom compra e lança ao rio Liffey para que as gaivotas comessem.

Durante a caminhada, Leopold Bloom encontra a Sra. Green, que lhe questiona o motivo de Bloom estar de preto. Logo ele se dá conta de que lhe perguntarão o dia inteiro se acaso ele estava de luto, já que ele havia ido ao enterro de Dignam. A Sra. Green conta que seu marido havia sonhado com uma carta, o Ás, subindo as escadas, o que lhe provocou pavor. E seu marido havia recebido uma correspondência contendo PC: Para Cima, alguma piada de um colega de trabalho. A Sra. Green comenta que a Sra. Beaufoy estava em trabalho de parto há três dias na maternidade Holles Street. A história do difícil parto da Sra. Green traz à lembrança de Bloom a perda do pequenino Rudy:

Eu era mais feliz então. Ou será que eu era? Ou eu sou agora eu? Eu tinha vinte e oito anos. Ela vinte e três. Quando nós partimos de Lombard Street oeste alguma coisa mudou. Nunca mais pôde ser a mesma coisa depois de Rudy. Não se pode trazer o tempo de volta. É como segurar a água na mão.

Seguindo a caminhada, Leopold Bloom entra no restaurante Burton, mas sente nojo da carne e também do ambiente fétido, cheirando a suor e urina de homens. Vai então ao restaurante de Davy Byrne. Enquanto degusta vinho, Bloom tem pensamentos eróticos:

Sofregamente eu me deitei sobre ela e a beijei: seus olhos, seus lábios, seu pescoço esticado que pulsava, seus seios fartos de mulher em sua blusa de tecido fino de lã, seus mamilos redondos e rijos. Inflamado eu a lambi. Ela me beijou. Eu fui beijado. Toda entregue ela ouriçou meu cabelo. Beijou, ela me beijou. A mim. E eu agora...

Um cliente de Davy Byrne, Nosey Flynn, comenta com o dono do restaurante que Leopold Bloom havia entrado para a maçonaria. Flynn conta que a maçonaria é cheia de segredos e não permite a entrada de mulheres. O capítulo termina com Bloom caminhando pela cidade, ébrio de vinho, com a respiração ofegante, pensando em deusas mulheres...

segunda-feira, janeiro 17, 2011

Amor de carnaval


Tati diz:
"Grande amor da minha vida", "alma gêmea", etc, é coisa que não existe
Fulano diz:
E é né?
Vc tá certa
Tati diz:
;)
Fulano:
Mas amor de carnaval eu sei que existe
Tati diz:
Ah, isso é verdade =)

Aviso

A quem interessar possa...

Aquele que tiver algum interesse por mim, fica desde já alertado de que eu sou DOIDA, DOIDA DE PEDRA.

Sem mais.

sábado, janeiro 15, 2011

Andrea doria

Às vezes parecia
Que de tanto acreditar
Em tudo que achávamos
Tão certo...

Teríamos o mundo inteiro
E até um pouco mais
Faríamos floresta do deserto
E diamantes de pedaços
De vidro...

Mas percebo agora
Que o teu sorriso
Vem diferente
Quase parecendo te ferir...

Não queria te ver assim
Quero a tua força
Como era antes
O que tens é só teu
E de nada vale fugir
E não sentir mais nada...

Às vezes parecia
Que era só improvisar
E o mundo então seria
Um livro aberto...

Até chegar o dia
Em que tentamos ter demais
Vendendo fácil
O que não tinha preço...

Eu sei é tudo sem sentido
Quero ter alguém
Com quem conversar
Alguém que depois
Não use o que eu disse
Contra mim...

Nada mais vai me ferir
É que eu já me acostumei
Com a estrada errada
Que eu segui
E com a minha própria lei...

Tenho o que ficou
E tenho sorte até demais
Como sei que tens também...

Renato Russo

sexta-feira, janeiro 14, 2011

Bad romance


Pardon, mas eu amo essa música e super me viciei e me identifico com ela =X

Só na vibe do bad romance... Haja poker face pra encarar ein ;)

I want your ugly
I want your disease
I want your everything
As long as it's free
I want your love
Love, love, love I want your love

(...)

I want your love and
I want your revenge
You and me could write a bad romance
I want your love and
All your lover's revenge
You and me could write a bad romance.

Éolo

Se ao ler o capítulo Hades, de Ulisses, de James Joyce, eu encontrei o clima perfeito, já que no dia chovia assim como no enterro de que trata o capítulo, o mesmo não posso dizer sobre a experiência de ler o oitavo capítulo, denominado Éolo. Essa passagem, como afirmam os comentadores de Joyce, faz uma referência ao momento em que os companheiros de Odisseu, em A Odisséia, abrem a sacola cheia de ventos tempestuosos que Éolo, o deus dos ventos, havia dado a Odisseu, levando os barcos onde eles se encontravam de volta à ilha.

Este capítulo apresenta diversas descrições de portas batendo, ventos fortes, onomatopéias do barulho do vento, produzindo sensações de ventania no leitor. A ação se passa em dois jornais Freeman e Evening Telegraph, nos quais Leopold Bloom, que é corretor de publicidade, entrega um anúncio de Alexandre Chaves (comerciante de chá, vinho e bebidas). O capítulo é dividido em várias passagens, com títulos ao modo de manchetes jornalísticas, o que provoca uma fluidez que lembra a distribuição de diversas notícias num jornal impresso.

Quanto à citação de Éolo, a minha interpretação é de que a referência do retorno à ilha em Ulisses é uma metáfora a respeito da diáspora de Leopold Bloom, da viagem de retorno à sua terra de origem, pois essa passagem da obra de Joyce traz referências ao judaísmo (e Bloom é judeu). Também acredito que a citação de Éolo, quando a cena se passa em redações de jornais, é uma referência à efemeridade e ao sensacionalismo presentes no jornalismo (a imagem de um furacão me lembra isso).

Numa das partes do capítulo, intitulada E era a festa da páscoa judaica, Leopold Bloom se lembra do pai. Pobre papai com seu livro Hagadah, lendo para mim de trás para diante com seu dedo. Pessach. O ano que vem em Jerusalém. Céus, ó céus! Toda essa longa história de que nos tirou das terras do Egito para a casa da servidão alleluia.

Na redação do Evening Telegraph, surge Stephen Dedalus, que havia ido ao jornal com intuito de entregar a carta do Sr.Deasy sobre febre aftosa para ser publicada. O editor Myles Crwoford relata que muitos achavam que a esposa do Sr.Deasy, que o abandonou, tinha febre aftosa, pois era bastante mal humorada, e certa noite havia jogado um prato na cabeça de um garçom.

Na redação, o professor MacHughe fala sobre o seu asco pela língua inglesa, que, para ele, é a língua da máxima "tempo é dinheiro", e demonstra o desejo de ensinar o grego, que seria a linguagem da mente, do intelecto. Ao que eu pergunto: será que esse personagem de algum modo expressa o pensamento de James Joyce a respeito das relações entre jornalismo (dinheiro) e literatura (intelecto)?

Após prometer que publicaria o anúncio de Leopold Bloom para Alexandre Chaves, o editor Myles Crowford se recusa a fazê-lo e envia o recado: Quer lhe dizer para beijar o meu traseiro? O capítulo termina com o diálogo entre Myles Crowford e Stephen Dedalus, num confronto entre um poeta e um jornalista, e Dedalus gostaria de publicar um artigo seu no Evening Telegraph, intitulado Uma visão da Palestina do Monte Pigash ou A parábola das ameixas, sobre mulheres que se sentam sobre anáguas listradas e erguem os olhos para contemplar a estátua de um adúltero maneta, o que lhes provoca torcicolo, e elas ficam a comer ameixas e cuspir os caroços.

Os poços

Primeiro você cai num poço. Mas não é ruim cair num poço assim de repente? No começo é. Mas você logo começa a curtir as pedras do poço. O limo do poço. A umidade do poço. A água do poço. A terra do poço. O cheiro do poço. O poço do poço. Mas não é ruim a gente ir entrando nos poços dos poços sem fim? A gente não sente medo? A gente sente um pouco de medo, mas não dói. A gente não morre? A gente morre um pouco em cada poço. E não dói? Morrer não dói. Morrer é entrar noutra. E depois: no fundo do poço do poço do poço do poço você vai descobrir quê.

O ovo apunhalado, de Caio Fernando Abreu.

Amores para as puras


Assisti hoje a Os primos (1959), de Claude Chabrol, e uma cena em especial me chamou a atenção. É quando Florence está esperando para se encontrar com Charles, o primo de Paul que veio do interior passar um tempo na sua casa em Paris. Paul é um hedonista, vive rodeado de mulheres e fazendo festas na sua casa com amigos e prostitutas. Já Charles é um estudante de Direito bastante dedicado e apegado à mãe, está sempre a escrever cartas para ela, e procura um romance. Enquanto Florence aguarda a chegada de Charles, que havia ido fazer uma prova, Paul e um amigo dele, Clóvis, tentam convencê-la de que ela não era mulher para Charles, e que caso se casasse com ele se sentiria entediada e seria infiel. O auge da agressão travestida de sensualidade por parte de Clóvis é quando ele diz a Florence:

- Você não é mulher para ter grandes sentimentos, e sim para apreciar carícias.

Submissa, Florence concorda com Clóvis, e engata um affair com o hedonista Paul. Rende-se às vontades de Paul, curva-se diante de seus insultos e suas violências. Interessante notar que, na verdade, Florence não escolheu Paul, mas tão somente se submeteu a ele. Como se ela buscasse o amor, mas naquela sociedade ela não merecesse ser amada, já que não era mais "pura". O amor para as puras, os maus tratos e o sexo para as putas.

Assim, Florence permanece inconformada. A falta de sensualidade e o carinho de Charles, ou o sexo intenso e o desprezo de Paul? E Florence permanece solitária, deitada no chão vestindo apenas uma calcinha, fumando, letárgica devido aos orgasmos proporcionados por Paul, mas, presa como numa cela, desejando os afagos de Charles.

quarta-feira, janeiro 12, 2011

Vem cá, criatura

Vem cá, criatura
Aproveite essa loucura
Oportunidade igual talvez não se repita
Então admita
Que esse é um ótimo momento
Pra ceder ao pensamento
O que lhe impulsiona pra folia
Então aproveite o dia
E já que está com a cabeça cheia de cerveja
Vem cá e me beija.

Ícaro Olavo, meu melhor amigo.

Hades


Hoje choveu e trovejou, um dia propício para proporcionar o clima adequado para ler o sexto capítulo de Ulisses, de James Joyce. Este capítulo, como afirmam os seus comentadores, é uma referência ao Hades, o reino das sombras, em Odisséia. Nesta passagem, Leopold Bloom vai ao enterro de seu amigo, Paddy Dignam, e tal evento lhe proporciona o encontro com o medo da morte, questionamentos sobre o que é a morte, e também a dolorosa lembrança do falecimento de seu pequenino filho Rudy, que deixou a vida pouco tempo depois do nascimento, e a recordação do seu pai, que suicidou-se.

Leopold Bloom chega ao enterro de Dignam numa carruagem, onde estavam Simon Dedalus (o pai de Stephen Dedalus), o Sr. Power e Martin Cunningham. Da carruagem, Simon Dedalus vê Stephen Dedalus caminhar pela rua de luto, e se enfurece ao supor que ele estava acompanhando por Buck Mulligan, o estudante de Medicina que zombou da morte da mãe de Stephen Dedalus. Mas ele estava acompanhado pela tia Sally. Após Simon Dedalus ver Stephen Dedalus, Leopold Bloom rememora o seu pequeno Rudy e como ele veio ao mundo.

Meu filho. Eu em seus olhos. Sentimento estranho seria. De mim. Apenas uma chance. Deve ter sido naquela manhã no Raymond Terrance ela estava na janela, observando os dois cachorros observando aquilo junto ao muro do de deixar de fazer o mal. E o sargento sorrindo para cima. Ela estava com aquele vestido creme com o rasgão que ela nunca coseu. Vamos transar, Poldy. Meu Deus, estou morrendo de vontade. Como a vida começa. Ficou barriguda então. Teve de recusar o concerto de Greystones. Meu filho dentro dela. Eu poderia tê-lo ajudado a progredir na vida. Poderia. Torná-lo independente. Aprender alemão também.

Tudo neste capítulo é morte: o céu nublado, a proeminência dos tons cinzas. Na ocasião, Leopold Bloom vê Blayzes Boylan, homem que ele suspeita que tenha um caso com sua esposa. E pensa: "pior homem de Dublin". Na ocasião, também está presente John Henry Merton, homem com quem Bloom havia brigado numa partida de bocha e que tem interesse pela sua esposa, Molly Bloom. Leopold Bloom conta uma anedota para os colegas na carruagem, sobre Reuben J. e seu filho. Dizia-se que Reuben J. enviara o filho para a ilha de Man com o objetivo de afastá-lo de uma mulher... Ao que o filho se lançou do barco ao mar... Mas o pescador o trouxe de volta com uma vara, como se ele fosse um peixe.

Na carruagem, Martin Cunningam conta que Paddy Dignam morreu subtamente, do coração. Leopold Bloom opina que esta seria a melhor morte. Até que surge o enterro de uma criança, o que espanta os senhores na carruagem e faz Leopold Bloom lembrar do seu pequenino Rudy. Ao ver o enterro do bebê, o Sr. Power diz: mas o pior disso é o homem que tira a sua própria vida. A maior desgraça para uma família. Ele não sabia que o pai de Bloom havia se suicidado. Bloom se angustia: Eles não tem compaixão disso aqui ou de infanticidio. Recusam enterro cristão.

Durante o enterro, a carruagem passa por uma manada. Leopold Bloom sugere que construam uma linha de bondes até o cemitério, para não ter que seguir com o caixão numa carruagem. Martin Cunningham lembra do episódio de Dunphy, cujo cadáver rolou do caixão sobre a carruagem até o asfalto, assombrando os familiares e amigos presentes com o incidente sórdido.

No enterro de Dignam, que deixara cinco filhos e uma mulher sem dinheiro, o Sr. Dedalus assim saúda o amigo falecido:

- Embora longe dos olhos, perto do coração.

A carruagem onde se encontra Leopold Bloom, Power, Dedalus e Cunningham passa pelo terreno onde Childs foi assassinado. A ideia de morrer por assassinato assombra-os, e eles sentem uma agonia naquele lugar.

Começa a celebração religiosa. A missa do enterro é celebrada em latim. Faz eles se sentirem mais importantes ao serem encomendados em latim. Missa de requiém.

Durante a missa, Leopold Bloom se mostra incrédulo quanto ao paraíso. E um dos presentes, Tom Kernam, comenta: Eu sou a ressurreição e a vida. Isso toca o coração mais profundo do homem. Neste capítulo, que cita o episódio de Cristo e Lázaro, a religião é apresentada por James Joyce como uma espécie de ilusão acalentadora de uma vida após a morte. Leopold Bloom observa a morte como algo extremamente materialista:

Ouso dizer que o solo seria bem fértil com adubo de cadáveres, ossos, carne, unhas. Ossuários. Pavoroso. Ficando verdes e rosados ao se decompor. Apodrecimento rápido em terra úmida.

E Bloom não vê com encanto, não crê na eternidade de Dignam nem na memória. O barro caiu mais suavemente. Começar a ser esquecido. Longe dos olhos, longe do coração.

O desejo

Ousei desfrutar do teu desejo com a dissimulação de quem tem um straight flush e finge ter um par. Nesse jogo, não poderíamos ser um par. A delicadeza do blefe, os olhares que se cruzam numa linha imaginária sobre uma mesa repleta de fichas. Eu queria que tu me amasses. E para isso precisei fingir estar à sua revelia. Vivi de pequenos gestos, de não aumentar as minhas apostas e sempre ceder, submissa, às suas. Conduzi-o à mais pura vaidade, e, confiante, as tuas apostas cresceram sucessivamente. Tu confiavas em mim - eu não costumava mentir no jogo. Seria incapaz de agir como se tivesse o que não tinha. E à medida que tua confiança crescia e tuas apostas aumentavam, eu ludibriava-o com os meus olhos baixos, as mãos trêmulas segurando as cartas como se nem as soubesse de cor. Eu te amava sim: amava-te porque não sei mentir e, justo por isso, acredito piamente nas minhas mentiras. Amava-te entranhado em mim, lá, devorando as minhas vísceras, mas essa que te amava já estava morta e tu não passavas de um abutre. Amava-te pela inebriante possibilidade de ser amada. Eu queria ser amada e não desistiria disso até apostares tudo o que tinha. E assim foi. E eu ganhei o jogo. E sussurrei no teu ouvido que o desejo só existe na ausência do objeto que desejamos. E que, entre ser desejada e ser amada, eu cá preferia ser desejada. Mesmo que soasse obsessivo, mesmo que não preenchesse o vazio. Meu vazio seria ainda maior com o tédio da tua companhia durante todo nascer do dia. Eu queria ser uma imagem, e uma imagem adorada. Um sacrilégio! E assim eu saúdo Johannes ao ler suas palavras...

*

Minha Cordélia,

O que é o desejo? A língua e os poetas rimam desejo e prisão. Que absurdo! Como se aquele que está na prisão pudesse queimar em desejo! Se eu fosse livre, como arderia! E, por outro lado, sou livre como um pássaro e, acredita-me, queimo em desejo - sinto-o ao ir para a tua casa e quando te deixo, e ainda, quando estou sentado queimo em desejo por ti. Mas poder-se-á então desejar aquilo que se possui? Sim, quando pensamos que, no instante seguinte, já não o possuímos. O meu desejo é uma impaciência infinita. Se eu tivesse vivido todas as eternidades e ganho a certeza de que me pertencerias em todos os seus instantes, só então estaria junto de ti e viveria comigo todas as eternidades - certamente não teria paciência bastante para estar um só momento separado de ti sem arder em desejo, mas possuiria a confiança suficiente para me manter calmo a teu lado.

Teu Johannes.

Diário de um sedutor, de Sören Kierkegaard.

terça-feira, janeiro 11, 2011

Teatro

Nunca na minha vida imaginei que ia fazer teatro. Mas um amigo disse que achava que eu ia curtir, e eu estava entediada, e queria conhecer o universo da atuação. Passei hoje a tarde e a noite em aulas de teatro. E me encantei.

Gostei dos exercícios de expressão corporal. Tive que me arrastar pelo chão, caminhar me esbarrando nas pessoas, olhar nos olhos de vários desconhecidos durante minutos enquanto imitava seus movimentos. Essa parte de olhar nos olhos me pareceu mais difícil. Tenho medo dos olhos do outro. Mas hoje olhei e muito... E isso me deixou feliz.

No teatro, você se envolve com o outro... o contato com o outro é intenso. Você sente a presença do outro, a amplitude e os obstáculos do espaço, a desenvoltura do próprio corpo. Dá vergonha? Dá. Ri algumas vezes. Desviei o olhar. Mas me diverti. E muito.

segunda-feira, janeiro 10, 2011

Aquele menino

Da segunda vez que tentei encontrar aquele menino,
Peguei uma estrada,
Fui de carona,
E nunca, nunca cheguei até ele
Nunca retornei àquele menino.

Posso até ter conhecido a sua cama
Fumado do seu cachimbo,
Posso até ter me incomodado com a falta de espaço na sua cama
E escutado o seu sono sofrido
Posso até ter conhecido quem ele mais ama
Quando fui dessa segunda vez
Mas não reencontrei aquele menino

Às vezes eu me pergunto se por acaso
não devia ter encontrado só daquela vez aquele menino
para que ele ficasse na lembrança
daquele jeito bonito
Aquele menino, que quando acordei, eu vi me olhando
e disse que estava me observando dormir
Quando da segunda vez me olhava apenas para caçoar dos meus olhos
Para dizer que eles estavam mortos
pois nada diziam.

Da primeira vez ele pediu para que eu não partisse
Da segunda vez ele nem queria se despedir
Eu devia apenas ir
E fui
Tateando no caminho um pouco de paz distante
Mas carregando ainda na bagagem
A mágoa do menino da segunda vez
A saudade do menino da primeira vez
E amava os dois, como se duas pessoas amasse.

Mas da terceira vez,
dessa vez eu o encontrei no meu lugar,
quando faltava pouco para não ser mais o meu lar
(e quando terei um lar definitivo?
não seria meu lugar este mundo infinito?)
E eu já sabia
E ele mesmo confirmou
Que aquele menino não existia
Mas encontrei um terceiro menino,
Que tinha medo de mim
E que também tinha medo de uma mulher que ele ama.

Este menino mais parecia um amigo,
não um amante
Este menino eu desejava,
mas não amava
E eu sabia que tudo o que amei nele antes
Foi fantasia
Que ele vestiu?
Que eu criei?
Mas este menino tem o direito de ser do jeito que ele é
Assim como tenho o direito de ser do jeito que sou.

E depois de tantos acasos
"Por que é que a gente é assim?"
Eu percebi
que ele, como eu, não sabe dar um abraço de despedida
que ele, como eu, leva a vida a viajar
que ele, como eu, tem medo de amar
cada um a seu modo.

"Este amor comum não serve para quem gosta de viajar".

quinta-feira, janeiro 06, 2011

Go away

Eu não sei dar fora. Fico sem graça, tento ser delicada, mas acabo não sendo clara, posso ser relapsa, termino não dizendo nada às vezes, recorro ao sumiço, ao celular desligado ou à mensagem de celular (claro que se for algo sério não vai ser assim).

Algumas pessoas ficam com raiva de mim por isso. Na verdade fico bastante confusa, e por não saber se quero ainda ou não, eu em afasto. Fico distante e não adianta: pode ligar insistentemente ou me ignorar, o final é o mesmo. Sumo.

Eu queria saber ser mais objetiva, direta, dizer logo qual é. Mas parece que não vou aprender isso nunca.

quarta-feira, janeiro 05, 2011

A vida de viajante


Hoje lembrei que o primeiro músico que conquistou o meu coração foi Luiz Gonzaga. Era pequenina, morava em Porto da Folha, e costumava dançar ao som da sanfona nas terras do sertão. Foi um tempo muito feliz, bucólico, lírico, ingênuo. Dá saudade aqueles quatro anos que passei por lá.

A vida de viajante

Minha vida é andar
Por esse país
Pra ver se um dia
Descanso feliz
Guardando as recordações
Das terras por onde passei
Andando pelos sertões
E dos amigos que lá deixei.

Chuva e sol
Poeira e carvão
Longe de casa
Sigo o roteiro
Mais uma estação
E a saudade no coração

Minha vida é andar...

Mar e terra
Inverno e verão
Mostra o sorriso
Mostra a alegria
Mas eu mesmo não
E a alegria no coração

Minha vida é andar...

É a terra que querias ver dividida


Estava ouvindo hoje uma música de Chico Buarque, Funeral de um lavrador, baseada num trecho do poema de João Cabral de Melo Neto, Morte e vida severina. Lembrei-me de alguns filmes: Cabra marcado pra morrer, Vidas secas, Deus e o diabo na terra do sol... Rememorei também o massacre de Eldorado dos Carajás... E fico sempre muito admirada com estes versos na voz do Chico, e volto a achar o Cabral muito foda... E lembro também da discussão tão antiga que é a luta pela terra, mas também tão atual...

Essa cova em que estás,
com palmos medida,
é a conta menor
que tiraste em vida.
— É de bom tamanho,
nem largo nem fundo,
é a parte que te cabe
deste latifúndio.
— Não é cova grande,
é cova medida,
é a terra que querias
ver dividida.
— É uma cova grande
para teu defunto parco,
porém mais que no mundo
te sentirás largo.
— É uma cova grande
para tua carne pouca,
mas a terra dada
não se abre a boca.

João Cabral de Melo Neto

Sonho de um carnaval


Como disse em outro post, foi em 2010 que eu descobri o carnaval. Já havia ido para outro carnaval antes, em Neópolis, mas em nada se compara à festa de Olinda/Recife. Neste ano irei brincar em outra terra: dessa vez o carnaval será em Ouro Preto. Não tive a oportunidade de conhecer Ouro Preto quando fui a Minas Gerais, mas já sei que vou gostar. Admiro cidades com arquitetura antiga, atmosfera nostálgica. E espero ter mais um carnaval maravilhoso, a festa mais linda do ano.

Carnaval, desengano
Deixei a dor em casa me esperando
E brinquei e gritei e fui vestido de rei
Quarta-feira sempre desce o pano

(...)

Era uma canção, um só cordão
E uma vontade
De tomar a mão
De cada irmão pela cidade

No carnaval, esperança
Que gente longe viva na lembrança
Que gente triste possa entrar na dança
Que gente grande saiba ser criança

Chico Buarque

Os lotófagos

Hoje, após ler o quinto capítulo de Ulisses, de James Joyce, senti uma profunda vontade de me deitar numa banheira com sabonete perfumado repleta de flores. Minhas favoritas são as rosas - vermelhas. Como boa ariana, adoro o vermelho. Esse é um capítulo cheio de sensações, tocando os diversos sentidos, mais especialmente o tato, o olfato e o paladar. Escrita do corpo, linguagem narcótica. A tradutora Bernardina Pinheiro relaciona essa escrita sensacionista com a narrativa da Odisséia: o capítulo Lotófagos seria uma referência aos companheiros de Odisseu, que ao aceitar comer os lótus na corte do rei Alcino ficam inebriados pela inércia e se recusam a partir.

Logo no início do capítulo, Leopold Bloom encontra um menino coletor de lixo "fumando um coto de cigarro mastigado". Na rua Westland Row, Bloom observa uma vitrine da Companhia Belfast de Chá Oriental, onde fantasia a respeito do universo do Oriente.

O Oriente distante. Lugar encantador deve ser: o jardim do mundo, folhas grandes preguiçosas a flutuar à volta, cactos, campinas floridas, cipós sinuosos assim os chamam. Me pergunto se é realmente assim.

Nessa passagem, não pude deixar de me lembrar do meu querido heterônimo Álvaro de Campos, que em sua poesia traz relatos sobre perambulações pelo Oriente em busca de grandes aventuras. Duas estrofes de Opiário:

É antes do ópio que a minh'alma é doente.
Sentir a vida convalesce e estiola
E eu vou buscar ao ópio que consola
Um Oriente ao oriente do Oriente.

Esta vida de bordo há-de matar-me.
São dias só de febre na cabeça
E, por mais que procure até que adoeça,
já não encontro a mola pra adaptar-me.

Prosseguindo a caminhada, Leopold Bloom vai até o correio, onde recebe uma carta de Martha, amante de Leopold Bloom, que escreve para o seu pseudônimo, Henry Flower (flower, flor em inglês). Lá ele encontra M'Coy, que comenta que sua mulher está para conseguir um bom cargo. Leopold Bloom então afirma que Molly Bloom cantará no Ulster Hall. M'Coy afirma que talvez não poderá ir ao enterro de Dignam e pede para que Bloom assine por ele.

A carta de Martha endereçada a Henry Flower, pseudônimo de Leopold Bloom, contém uma "flor amarela com pétalas rosas achatadas". Nela, Martha faz diversas declarações de desejo a Bloom. Nunca me senti tão atraída por um homem como você. Eu me sinto tão mal a respeito. E a correspondência termina assim: PS: Diga-me sem falta que tipo de perfume sua mulher usa. Eu quero saber.

Depois, Leopold Bloom vai à igreja. Joyce descreve o ritual como algo bastante corpóreo: como corpórea é a própria religião cristã. Corpus: corpo. Cadáver. Boa ideia o latim. Entorpece-as primeiro. Asilo para os moribundos. Elas não parecem mastigá-la: apenas engoli-la. Ideia estranha: comendo pedacinhos de um cadáver. Ora os canibais concordam com isso. E diante das iniciais na cruz, I.N.R.I., Leopold Bloom lê assim: Inocente Nazareno Rapaz Infeliz.

Após a missa, Leopold Bloom vai à farmácia de Bantom Lyons, onde compra sabonete perfumado, óleo de amêndoa e tintura de benjoim. Ao chegar em casa, Leopold Bloom segue para o banho, e o capítulo termina belamente assim:

Desfrute um banho agora: uma tina de água limpa, esmalte frio, o jorro tépido e suave. Este é o meu corpo.
Ele anteviu seu corpo pálido totalmente reclinado nela, nu, num útero de calor, untado de um sabonete líquido perfumado, suavemente banhado. Viu seu tronco e membros, limão-amarelo, cobertos pela água ondulada e por ela sustentados, boiar ligeiramente: seu umbigo, broto de carne: e viu os cachos escuros emaranhados de seu tufo flutuando, cabelo flutuante da corrente em volta do pai flácido de milhares, uma lânguida flor flutuando.

terça-feira, janeiro 04, 2011

Me deixa morar nesse azul


"É, só tinha de ser com você
Havia de ser pra você

Senão era mais uma dor

Senão não seria o amor "

"É, você que é feito de azul,
me deixa morar nesse azul,
me deixa encontrar minha paz"

Tom Jobim... na voz da Elis...

Metade

Que a força do medo que eu tenho,
não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.

Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio...
(...)

Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz
que eu mereço.

E que essa tensão
que me corrói por dentro
seja um dia recompensada.

Porque metade de mim é o que eu penso,
mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesma
se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto,
um doce sorriso,
que me lembro ter dado na infância.

Porque metade de mim
é a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso
mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito.

E que o teu silêncio
me fale cada vez mais.

Porque metade de mim
é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba.

E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê-la florescer.

Porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada.

Porque metade de mim é amor,
e a outra metade...
também.

Ferreira Gullar

Palavras esdrúxulas

Pode não ter sido uma carta de amor, muito mais um desabafo tempos depois, de dizer o que eu um dia quis dizer e calei, mas não deixou de ser ridículo. E é nessa hora que o heterônimo Álvaro de Campos, minha alma gêmea, fala por mim:

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

segunda-feira, janeiro 03, 2011

Eu apenas queria que você soubesse

Histórias voltando no tempo. Vejo-me em situações semelhantes às de outrora. Mas as minhas respostas a elas são outras bastante adversas. A partir de quando ocorreu essa mudança em mim? Houve algum marco para isso tudo? De uma forma ou de outra, eu me orgulho ao ver que finalmente eu me tornei uma mulher. Eles podem até tomar susto, mas o que eu tomo é coragem e força.

Eu apenas queria que você soubesse
Que aquela alegria ainda está comigo
E que a minha ternura não ficou na estrada
Não ficou no tempo presa na poeira

Eu apenas queria que você soubesse
Que esta menina hoje é uma mulher
E que esta mulher é uma menina
Que colheu seu fruto flor do seu carinho

Eu apenas queria dizer a todo mundo que me gosta
Que hoje eu me gosto muito mais
Porque me entendo muito mais também

E que a atitude de recomeçar é todo dia toda hora
É se respeitar na sua força e fé
E se olhar bem fundo até o dedão do pé

Eu apenas queira que você soubesse
Que essa criança brinca nesta roda
E não teme o corte de novas feridas
Pois tem a saúde que aprendeu com a vida

Eu apenas queria que você soubesse
Que aquela alegria ainda está comigo
E que a minha ternura não ficou na estrada
Não ficou no tempo presa na poeira

Eu apenas queria que você soubesse
Que esta menina hoje é uma mulher
E que esta mulher é uma menina
Que colheu seu fruto flor do seu carinho

Eu apenas queria dizer a todo mundo que me gosta
Que hoje eu me gosto muito mais
Porque me entendo muito mais também.

Gonzaguinha

Calipso

No quarto capítulo de Ulisses, de James Joyce, denominado Calipso, o autor apresenta a obsessão de Leopold Bloom por sua esposa, Molly Bloom. Joyce tece uma comparação sutil entre a gatinha que o casal cria na casa situada na Eccles Street e Molly Bloom. Enquanto Leopold Bloom devora os mais diversos tipos de carne no café da manhã, como peixe, fígado, etc, Molly Dedalus está deitada na cama e a descrição dos movimentos que ela a faz se assemelhar a uma gata, e até mesmo a sua voz produz sons semelhantes a de uma gata, e ela não elabora uma conversa nessas primeiras horas do dia, somente geme. Na descrição dos pensamentos que Leopold Bloom tem ao ver gata, Joyce revela a obsessão de Leopold Bloom por Molly Dedalus:

Eles as chamam de tolas. Elas entendem o que dizemos melhor do que nós a entendemos. Ela entende tudo que quer. Vingativa também. Cruel. A natureza dela. Curioso os camundongos não chiam nunca. Parecem gostar disso. Eu me pergunto o que sou para ela. Altura de uma torre? Não, ela pode pular por cima de mim.

Leopold Bloom sai de casa, vai ao armazém de Sr. Larry O'Rourke, caminha pela praia, mas sempre recorda de Molly Bloom. Céu noturno, lua violeta, cor das novas ligas de Molly.

Ao chegar em casa, Leopold Bloom pega na caixa dos correios duas cartas e um cartão. Ele entrega a carta dirigida a Molly, e prepara rim e chá. Molly está lendo um livro e pergunta o que significa a palavra metempsicose. Leopold responde que quer dizer a transmigração das almas. Molly pede para que ele simplifique sua explicação, e Leopold afirma que se trata da reencarnação, da crença na vida após a morte e no retorno do espírito em outro corpo. Naquele mesmo dia, o casal havia sido convidado para o enterro de Dignam.

Uma das cartas que Leopold havia recebido era de sua filha, Milly, que completava 15 anos naquela data e agradecia o belo presente que havia recebido. Essa carta desperta em Leopold Bloom alguns conflitos internos referentes ao fato de Milly ter saído de casa tão cedo, e também a lembrança de seu filho Rudy, que morreu logo após o nascimento e estaria com 11 anos naquela época.

O capítulo termina com Leopold Bloom lendo no banheiro enquanto defeca (Joyce costuma apresentar seus personagens em cenas bastante inusitadas). E mesmo nesse momento, Molly Bloom o persegue em seus pensamentos. Leopold recorda de Blazes Boylan, homem rico interessado em sua esposa.

Esse tal de Boylan está bem de vida? Ele tem dinheiro. Por quê? Eu reparei que ele exala um cheiro bom da sua boca ao dançar. Não adianta cantarolar então. Aluda a isso. Tipo estranho de música naquela última noite.

sábado, janeiro 01, 2011

Proteu

Continuando a saga de reler Ulisses, de James Joyce, hoje li o terceiro capítulo, denominado Proteu. Bernardina Pinheiro conta que Joyce afirmou que este capítulo leva ao limite as categorias aristotélicas de tempo e espaço, como também coloca em crise os sentidos da audição e da visão. Trata-se de um capítulo bastante difícil de digerir e bem menos narrativo (no sentido convencional) do que os dois primeiros.

Na praia de Sandymount, Stephen Dedalus tem uma experiência um tanto quanto lisérgica diante das paisagens, e inclusive rememora os dias que passou na França na companhia de Kevin Egan, quando apreciou fumo e absinto. E Dedalus experimenta de modo poético essa reviravolta dos sentidos na praia. Inelutável modalidade do visível: ao menos isso se não mais, pensei através dos meus olhos. Assinatura de todas as coisas que estou aqui para ler, ovas-do-mar e destroços do mar, a maré se aproximando, a bota enferrujada. (...) Como quer que seja, você está andando através disso. Eu estou, um passo largo de cada vez. Um muito curto espaço de tempo através de muito curtos tempos de espaço. (...) Exatamente: e isso é a modalidade inelutável do audível. Abra seus olhos.

Através da sinestesia, Joyce testa os limites entre as categorias de tempo e espaço, como também entre os sentidos da visão e da audição, apresentando uma percepção difusa do mundo. Ou seja, a escrita de James Joyce, que dialoga com a teoria psicanalítica e com a vanguarda do surrealismo, propõe uma revolução da linguagem através da revolução da própria percepção. E Joyce diz, através do seu personagem Stephen Dedalus: Você acha as minhas palavras obscuras. A escuridão está em nossas almas, você não acha? Mais aflautado. Nossas almas, feridas pela vergonha de nossos pecados se aferram ainda mais a nós, uma mulher se apega ao seu amante, mais e mais. Esse novo modo de olhar a realidade e a libertação do incosciente passariam também pelo erotismo - não sem certa culpa, já que sabemos que James Joyce teve uma rígida educação católica.

Essa valorização da irracionalidade termina ocorrendo também através da monstruosidade dos animais em Ulisses. Sabemos que os personagens monstros são caracterizados pela liberdade que é temida por nós. Um ponto, um cão vivo, surgiu à vista ao longo da praia. Meu Deus, será que ele vai me atacar? Respeite a liberdade dele. Você não será o patrão dos outros ou o escravo deles.

Na praia de Sandymount, há um momento em que Stephen Dedalus tem delírios (acredito que sejam) vendo a Sra. Florence MacCabe, uma viúva, caminhando atrás de uma parteira que leva uma sacola plástica contendo um feto. Penso que a visão do feto abortado remete ainda à conflituosa relação entre Dedalus e sua mãe, e a culpa que ele carrega por ter se negado a atender o seu último pedido antes da morte.

Sabemos que James Joyce é afeito à criação de neologismos e também ao uso de onomatopéias, e neste capítulo ele brinca com os barulhos do mar, como também relaciona a cor do mar à cor da meleca que Stephen Dedalus retira do nariz e coloca sobre uma rocha, chamando o mar de verdemeleca.

Cá pra nós, as passagens com as quais eu me identifiquei foram estas:

O sofrimento está longe.
E basta de virar para o lado e meditar.

Sou como sou. Como sou. Ou tudo ou nada.