domingo, janeiro 31, 2010

Agora toca interminavelmente na minha cabeça aquela música da Nação Zumbi:

E quem não vai torcer
pro coração bater?
Dá-lhe viver!
Dá-lhe viver!
Eu gosto de ser repórter, de ir pra rua. Engraçado isso.

Dona Quixote

Tem hora que eu paro, olho pro mundo e penso: céus, como os meus desejos são incompatíveis com o meu mundo!!!

Já cantava Vinicius: sei lá, sei lá, a vida é uma grande ilusão... sei lá, sei lá, só sei que ela está com a razão...

terça-feira, janeiro 12, 2010

O problema do remédio é que ele cura de uma coisa, mas tem as reações adversas. Então um remédio te cura da dor de cabeça, mas traz náuseas, tonturas, loucuras...

O problema do remédio é que não há cura. Cura-se de uma dor pra arrumar outra dor...

segunda-feira, janeiro 04, 2010

Lula, o filho do Brasil (2009), Fábio Barreto


Dizer que Lula, filho do Brasil (2009), de Fábio Barreto, não tem nenhum mérito artístico é tão clichê quanto o próprio filme. Afinal, nem eu, nem ninguém (acredito) esperava um Terra em transe , nenhuma alegoria glauberiana da vida sobre os problemas de governabilidade do governo Lula. É claro que vanguardismo estético e político são totalmente opostos à obra feita pela Globo Filmes e patrocinada por empresas interessadas em eleger o PT novamente.

Ironicamente, o filme, que começa com a trajetória do pequeno Lula e sua família no sertão, é influenciado por Vidas secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos, clássico do Cinema Novo. Da obra de Nelson Pereira baseada no livro de Graciliano Ramos, o filme de Fábio Barreto herda a incomunicabilidade da família, a presença de um cão que lembra a cadela Baleia, o tédio evocado pelas paisagens do sertão - tédio e incomunicabilidade que, se Nelson Pereira explora através da dilatação temporal, em Fábio Barreto a trama tem que andar logo e a passos largos.

O filme de Fábio Barreto, aliás, é repleto de situações conectadas de maneira extramamente forçada, empurrando a narrativa de maneira às vezes patética. Um dos centros da trajetória do herói Lula é a sua relação simbiótica com a mãe Lindu, a quem ele dedica a sua vitória nas eleições e a quem o diretor dedica o final do filme. Nisso Fábio me lembra o Bruno Barreto em Última parada 174 (2008), outro filme de narrativa muito densa e preocupado com a relação afetiva entre Sandro Nascimento e sua mãe. Em ambos os filmes o carinho materno é o elemento que retira o filme das problemáticas sociais e o puxa para o universo individual.

É a mãe de Lula quem mais se incomoda com o seu envolvimento com o sindicato. O drama familiar pelo qual passam os sindicalistas já havia sido abordado antes por Eles não usam black-tie (1981), de Leon Hirszman. O diretor Leon Hirszman dirigiu também o documentário ABC da Greve (1990); outros documentários sobre as greves no ABC paulista foram Linha de montagem (1982), de Renato Tapajós e Greve!(1979), de João Batista de Andrade, todos filmes financiados por sindicatos que, ao abordar as greves dos metalúrgicos realizadas em tempos de arrocho salarial da ditadura militar, terminam por deter-se sobre a figura de Lula como lider político carismático.

Esse líder que foi ovacionado por Pedro Bial quando na sua vitória nas eleições 2002 no Fantástico (programa da mesma Globo que produziu o filme em questão e que editou de forma manipuladora aquele debate, lembram?), é o Lula que, segundo João Moreira Salles, sempre foi o mesmo. O João Moreira Salles, que dirigiu o documentário sobre a campanha presidencial de Lula em 2002, Entreatos, afirmou certa vez que aqueles que afirmam que Lula mudou muito desde que abandonou a roupa e a barba de sindicalista e passou a usar o terno, na verdade entenderam tudo errado, pois Lula é o mesmo. Podemos ver isso claramente na cena de Entreatos em que Lula fala que detestava usar macacão de metalúrgico e só quem não sabe o quanto aquilo é quente e incômodo é que o critica por vestir terno.

Esse Lula aparece discretamente no filme de Fábio Barreto. A montagem situa duas cenas em sequência: uma em que Lula fala com aquela postura brava e a roupa suja, outra em que ele está mais brando e de terno. Por mais que reclamem que o Fábio Barreto não mostra a trajetória política de Lula pós-1979, incluindo a fundação do PT, esse Lula de terno falando que "o patrão não é inimigo nosso, afinal, é o patrão quem paga nosso salário", já é um prelúdio do Lula que ganhou as eleições presidenciais.

No mais, Lula, o filho do Brasil é até divertido (pelo menos foi pra mim), mesmo sendo um filme ruim, novelesco. Se a trilha sonora às vezes irrita de tão melodramática, vou confessar que adorei ouvir Tim Maia como tema do romance do Lula com a esposa (sou fã do Tim Maia, portanto, suspeita para falar). Mas eu juro que não merecia ver...

- A cena em que o personagem de Lula ganha o diploma de torneiro mecânico do SENAI diante de uma mãe emocionada e chorosa. Fica parecendo (é quase certo) que o SENAI, um dos patrocinadores do filme, mandou incluírem essa cena.

- Aquela fusão da imagem do rosto de Lindu/mãe de Lula/ Glória Pires com a carta que estava sendo lida para ela.

- O close da boca do Aristides/ pai de Lula/ Milhem Cortaz que salta para a imagem do rosto de Lula criança chorando, criando uma tosca alusão imagética ao alcoolismo do pai que provocava sofrimento na criança.

- O flashback produzido a partir da foto que a mãe de Lula contempla enquanto está doente, foto dos filhos pequenos no sertão. Flashback a partir de foto é o artifício mais manjado, utilizado pelos roteiristas de primeira viagem que não sabem contar uma história de outra maneira mais complexa.