sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Nunca tive um carnaval decente

Isso mesmo, amiguinhos. Nada de Olinda, terra oficial do carnaval de rua e da putaria generalizada, nem Rio de Janeiro, com seus carros alegóricos colossais e mulheres desavergonhadas. Não, nada disso.

A única vez que participei de uma festa de carnaval foi em 2007, quando fui a Neópolis. Cheguei lá toda animada, afinal, finalmente eu ia viver um carnaval de verdade! Doce ilusão...

Logo no primeiro dia, no momento em que eu estava me preparando para sair da casa onde eu e meus colegas ficamos hospedados, o amigo S. alertou-me de que não seria adequado pular no trio Zé Pereira usando óculos. Relutei e argumentei que eu sou ceguíssima, não enxergo bufulhas sem óculos, e não ia andar por aí tropençando nas pessoas em pleno carnaval.

Não demorou muito para que um filadaputa qualquer aleatório da vida jogasse com a maior força do mundo uma melequeira azulada bem na minha cara, e meus óculos foram lançados diretamente para a casa do caralho. Olhei para trás na esperança de pegar os meus óculos, e me deparei com uma multidão avassaladora me empurrando para frente (e possivelmente pisando nos meus queridos óculos).

Você não sabe o que é estar cega no carnaval. E no carnaval de Neópolis, onde jogam tudo que é melequeira na sua cara... ki-suco, café, farinha de trigo, etc etc etc. Eu simplesmente não tinha como me defender. Como era visível pela minha cara de perdida que eu estava vulnerável, então eu era um alvo e tanto. Eu era a pessoa que chegava à casa com mais sujeira no corpo.

Para completar, faltou água na casa. Ou seja, eu ficava toda melada e não havia onde tomar banho. Aí tinha que ir me lavar num chuveiro que ficava nos fundos da casa, que era aberto para o mato. Como se não bastasse, não muito distante do chuveiro havia um chiqueiro, pessoal, isso mesmo, um CHIQUEIRO, éeee, com porquinho e tudo. Nada contra os porquinhos, mas não me agrada a idéia de conviver com um. Mas isso não é tudo. Havia também um maldito moleque em tempos de "descoberta da sexualidade" que ficava o tempo todo querendo me ver tomando banho, e eu tinha que ficar ligada e dar aqueles berros SAI DAÍ, GURI.

Ainda não é tudo. Está certo que eu bebo sim, e estou vivendo, mas o pessoal daquela casa era bizarro. De manhã cedo me acordavam com umas cornetas dos infernos, e já iam me oferecendo uma latinha de Skol. No café da manhã, meu querido colega D. chegou ao cúmulo de colocar cerveja no cuscuz (quem não aguenta, come cuscuz com leite). Outro amiguinho simplesmente vomitava e, logo depois, abria uma latinha. Nessa brincadeira, com falta de água, houve momentos em que não havia uma gota de água sequer e eu tive de matar a sede tomando cerveja. O carnaval, que era para ter durado uma semana, acabou sendo de apenas dois dias, pois no terceiro pedi arrego e fui embora logo depois do almoço.

Esse ano me perguntaram se eu não queria ir para Neópolis. Eu disse O QUÊ, mas nem morta! Vou ficar por aqui mesmo, nerdando em Buracaju City.

Musicoterapia


É incrível: toda vez que escuto Beatles eu me sinto mais feliz. Uma vez meu professor de inglês pediu para a gente escrever uma redação sobre os 10 mandamentos para uma pessoa se sentir bem no dia-a-dia. Lembro que um dos meus mandamentos era Listen to The Beatles in the morning. O professor achou engraçado. Mas é verdade!
Sei lá, há bandas que a gente escuta uma época e depois deixa pra lá. Beatles não, Beatles é pra sempre!


segunda-feira, fevereiro 09, 2009


Não canso de plagiar no meu dia-a-dia kkkk

And now, if any of you son of bitches got anything else to say, NOW IS THE FUCKING TIME!

domingo, fevereiro 08, 2009

O que é isso, companheiro?


Um dos maiores problemas do cinema brasileiro é a vontade de ganhar o Oscar. Essa necessidade de obter o aval estrangeiro pode produzir pérolas como O que é isso, companheiro? (1997), do diretor Bruno Barreto. O filme relata o sequestro de um embaixador americano, Charles Elbrick, por um grupo de militantes comunistas em plena ditadura militar no Brasil. Charles termina por ser a figura mais carismática do filme: um democrata bonzinho, apaixonado pela esposa, que não fazia a mínima idéia de que representantes do governo dos Estados Unidos davam aulas de como torturar comunistas. O embaixador, segundo o que ele próprio afirma no filme, queria apenas ter relações diplomáticas com o Brasil.

O filme faz uma defesa de valores de liberdade, com todo aquele discurso choroso sobre democracia e etc, com pretensões de documento histórico, justamente como o júri do Oscar adora. É uma obra que exibe também a linguagem clássica de Hollywood - fica bem na fita ver como os brasileiros aprenderam a fazer filme do jeito deles, tanto é que o filme foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

Muito diferente da ousadia estética buscada pelo Cinema Novo, que teve como manifesto a Estética da Fome, lançada pelo cineasta Glauber Rocha. Se Bruno Barreto traz sua linguagem limpinha, exemplar do modelo do Cinema da Retomada, e representa os comunistas como malucos que se metiam num mundo violento, Glauber fazia um elogio à violência como manifestação libertadora dos oprimidos. Deus e o diabo na terra do sol é um marco no elogio à violência como revolta dos subordinados.

Bruno Barreto vai de encontro à essa violência, o que não consistiria um problema caso sua crítica não fosse tão rasa quanto um pires, e sua visão da realidade social um verdadeiro conto da carochinha. Logo no começo da obra, vemos o trabalho da direção de arte elaborar uma tiração de sarro com a tradição cinemanovista: no quarto dos jovens, que mais tarde irão se empenhar na luta pela revolução, encontra-se pendurado um pôster do filme Deus e o diabo na terra do sol, como também do mártir Che Guevara.

Ora, em que consiste a sacanagem do Bruno Barreto com os comunistas e também com uma tradição do cinema brasileiro? É que, por mais que o diretor tenha a pretensão de apresentar um filme não-ideológico, a visão de mundo impregnada na obra em questão coincide surpreendentemente com a de um dos personagens do filme. Quem? O torturador Henrique. É Henrique quem afirma que a grande maioria dos jovens comunistas era formada por meninos sonhadores e ingênuos manipulados por líderes iníquos que queriam tomar o poder.

Não é por acaso que os jovens comunistas são representados exatamente assim na obra - como meninos que vivem no mundo da lua, colocando o comunismo e o Cinema Novo, presentes em pôsteres no quarto dos comunistas, também como projetos nefelibatas. E também não é por acaso que o único personagem de fato autoritário e perverso da obra é o líder comunista Jonas, tratado como um manipulador pelo filme.

Só que Bruno Barreto tenta aparecer bem na fita com um pretenso filme politicamente correto e isento de ideologias políticas, todavia, no fim das contas, terminou representando a realidade de acordo com um personagem torturador. A tortura não doeu tanto assim para os comunistas, segundo Bruno Barreto. Tanto é que, numa das cenas do filme, torturadores falam sobre um sargento que se casou com uma vítima que sentia gozo pela tortura. Sem dúvida deve ter sido extremamente prazeroso para muitas mulheres serem estupradas e receberem choques elétricos na vagina nos porões da ditadura.

Numa versão tola da idéia de Rousseau, segundo a qual "o homem é bom, mas o meio o corrompe", os indivíduos aparecem no filme todos como seres humanos bons, exceto o líder comunista Jonas. Os personagens são arrastados até a violência por uma força maior que eles. O filme estabelece laços afetivos entre os comunistas e seu refém, o embaixador, o que poderia constituir uma maneira complexa de tratar a realidade, sem o típico maniqueísmo vítima e algoz, porém termina retirando a discussão política em prol de uma parábola sobre homens levados à violência por forças estranhas. A luta contra as injustiças sociais ou a defesa do fascismo não se relaciona diretamente com as motivações dos personagens, pois os problemas sociais permanecem fora da diegese, Henrique pratica a tortura apenas porque é seu trabalho, e o embaixador sequer sabe sobre a relação dos EUA com a tortura no Brasil.

Os personagens pertencem a outro mundo, pois enquanto eles ficam metidos com discussões sobre a coletividade, as pessoas comuns tentam levar suas próprias vidas. A partir do momento em que os jovens comunistas escolhem a guerrilha, eles perdem suas identidades (são chamados por nomes falsos), e afastam-se da família e dos amigos. O filme os mostra como se estivessem cegos. Na cena em que eles vestem máscaras para esconderem seus rostos do olhar do refém, o embaixador, o plano destaca a imagem de uma tesoura cortando o pano para fazer buracos na região do capuz que ficaria sobre os olhos, numa referência clara à "cegueira" dos personagens comunistas.

Eles estão cegos desde a cena em que o amigo de César e Fernando, que decidiu levar sua própria vida fazendo teatro, sai de quadro e, num jogo de campo e contracampo, segue um outro mundo e um outro caminho, separando-se dos seus colegas. O filme poderia apontar uma crítica, já que em outro momento Fernando e o amigo ator se reencontram, e Fernando afirma que é melhor estar envolvido com suas lutas do que vivendo no faz de conta de uma peça de teatro.

Só que segundo O que é isso, companheiro? parecia haver dois Brasis nos tempos de chumbo: um das primeiras imagens que aparecem no filme, com fotografias documentais da praia de Copacabana ao som de Garota de Ipanema, como também o Brasil que surge ao final, com Maracanã lotado de torcedores eufóricos num jogo de futebol, e outro Brasil país dos militantes e torturadores se digladiando entre si, como se não houvesse em nenhum lugar um Brasil que passasse fome.

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Sobre cinema e passado


Assisti hoje ao filme O sexto sentido (1999), do qual eu não havia gostado na época de seu lançamento nos cinemas, apesar de todo o estardalhaço que fizeram em torno do filme, mas que hoje descobri uma belíssima obra do M. Night Shyamalan. O que mais me chamou a atenção no filme dessa vez, no entanto, não foi o final surpreendente, e sim a sua temática e a maneira como elabora uma reflexão sobre o próprio cinema.

O psicólogo Malcom Crowe, que quer ajudar Cole, um garoto atormentado por visões de pessoas mortas, mesmo "problema" de outro paciente, Vincent, que chegou a adentrar na sua casa e lhe dar um tiro acusando-o de não tê-lo ajudado, só passa a acreditar no sexto sentido de Cole após ouvir uma fita com gravações de consultas com Vincent, quando este ainda era criança, e que continha a estranha voz de um homem que gritava em espanhol que não queria morrer. É através de um suporte tecnológico que Malcom obtém a confirmação da realidade das visões de Cole. Em outro momento, Cole mostra ao pai de uma menina, Kyra, que havia falecido, durante o velório dela, uma fita que ela havia lhe entregado para que ele desse ao pai dela. Tratava-se de uma gravação que a menina havia feito de uma brincadeira sua de teatro de bonecos, em que coincidentemente a mulher que tomava conta dela aparecia para lhe dar comida e o video mostrava-a contaminando a refeição da garota.

Essa fita de uma mensagem póstuma nos serve como uma reflexão sobre o próprio cinema. Ora, quem além de nós, espectadores, não vê em Cole apenas um garoto alucinado? Nós vemos o que ele vê, e o processo de identificação é construído de tal maneira que compartilhamos até do seu medo diante do sobrenatural, presenciamos as assustadoras aparições de fantasmas no seu quarto à noite, e encaramos os personagens que ignoram o seu dilema como cegos, ignorantes, negligentes até. Nós somos testemunhas oculares da realidade que Cole vicencia. Entretanto, no final o filme nos mostra que o cinema também pode nos pregar peças - que toda realidade é uma perspectiva, e que um ponto de vista pode ser enganador.

Outro ponto forte do filme, em minha opinião, é a maneira como ele fala sobre a relação do ser humano com o passado, o desejo de acertar as contas, seja pela culpa por uma falha cometida, ou seja pelo desejo de vingança. De uma forma ou de outra, todos somos como os mortos que perambulam pelas ruas diante dos olhos de Cole - temos esse impulso que nos conduz de volta ao passado, tornando o presente tão incerto, e, diante do mundo que insiste na mudança, vemos apenas aquilo que queremos ver, como Cole falou sobre os fantasmas (they see only what they want to see). A obra pode falar também sobre como as pessoas fazem projeções do passado em outras pessoas - a exemplo de um pai que quer que o seu filho seja o que ele não conseguiu ser, ou de alguém que quer ajudar uma pessoa da maneira como não ajudou outra. O filme também traz uma interessante visão a respeito da figura do psicólogo, aquele incubido de compreender profundamente a alma humana e desvendar o motivo de suas mais complexas angústias. Nesse filme, nós descobrimos que ele não é tão são e nem está tão distante assim das outras pessoas angustiadas que visitam o quarto de Cole à noite. Há uma inversão de papéis, e um menino tido como problemático termina por ficar num impasse entre os lugares de "paciente" e de "terapeuta", assim como o próprio psicólogo.

domingo, fevereiro 01, 2009

A religião do século XXI

Em mesa plena mesa de bar, o pessoal conversava sobre ateísmo. Um colega ateu, que tem uma capacidade olímpica para desenvolver teorias cretinas e piadas bestas, falou-nos sobre a fabulosa Religião dos Adoradores do Unicórnio Rosa Invisível. Isso mesmo, amiguinhos.

Tal religião consiste numa mescla de ciência e fé. Ora, por quê? Digamos que seus seguidores acreditam por meio da fé que trata-se de um unicórnio rosa, e, de acordo com a ciência, que ele é invisível, já que ninguém pode vê-lo.

E quem quiser que diga que essa religião é mentirosa!