domingo, março 30, 2008

Eu quero uma música com meu nome. Há tantas músicas por aí com nome de mulher, como Luciana, Clarisse, Ligia, Gabriela, Bárbara, Maria, etc etc.

Veja esta música do Tom Jobim, eu quero uma música dessa pra mim!!!!!!!!!!!!!
Alguém tem que compor Tatiana ou então eu mudo meu nome pra Luiza!!!!


Rua,
Espada nua
Boia no céu imensa e amarela
Tão redonda a lua
Como flutua
Vem navegando o azul do firmamento
E no silêncio lento
Um trovador, cheio de estrelas
Escuta agora a canção que eu fiz
Pra te esquecer Luiza
Eu sou apenas um pobre amador
Apaixonado
Um aprendiz do teu amor
Acorda amor
Que eu sei que embaixo desta neve mora um coração

Vem cá, Luiza
Me dá tua mão
O teu desejo é sempre o meu desejo
Vem, me exorciza
Dá-me tua boca
E a rosa louca
Vem me dar um beijo
E um raio de sol
Nos teus cabelos
Como um brilhante que partindo a luz
Explode em sete cores
Revelando então os sete mil amores
Que eu guardei somente pra te dar Luiza
Luiza
Luiza
Acredito que as pessoas têm uma tendência a permanecer no mesmo lugar. É a tal da inércia. A voltar para os mesmos amores, aos mesmos lugares, às mesmas idéias... só que, ao mesmo tempo, elas querem a novidade, as emoções desconhecidas e o terreno perigoso. Entretanto, esse desejo parece sucumbir ao que as mantém no que transmite segurança, estabilidade, no que não é surpreendente nem irá conduzir a situações ameaçadoras, posto que inexploradas. Então pode tantas vezes trair amores, lugares, idéias, tradições: porque traiu antes a si mesmo.
Hoje me lembrei da frase de minha amiga Débora...

"Tati, você se faz de durona, mas é como uma 'cachorrinha' saltando por entre as pernas".

terça-feira, março 25, 2008

Pimenta mexicana - ou Uma pequena obsessão

Era um dia chuvoso e eu saía do trabalho no fim da tarde, em um expediente incomum, pois meu horário é pela manhã, quando me dirijo à loja de conveniência situada no posto vizinho à Aperipê para comprar qualquer coisa que pudesse embrulhar a minha fome. Então eu vou pra lá, venho pra cá, olho os sorvetes, huuuum, não, não, eu quero algo salgado, huuuuumm, ah! Vou comprar uma torcida... huuuum, vamos ver lá lá lá, sabor cebola não, bacon não, ah! pimenta mexicana! É claro que levei o de pimenta mexicana! Quer coisa melhor do que o sabor quente da pimenta misturado à sensualidade latino-americana? Não né!

Sou uma mulher dos trópicos, uma anti-dama à beira de um ataque de nervos à la Almodóvar. Então merecia aquele salgadinho, que não era espanhol, mas tinha un sabor muy bueno si! O torcida de pimenta mexicana começava só um pouquinho apimentado para, ao fim, queimar a boca e me fazer lamber os dedos em pleno ponto esperando o ônibus que não chegava nunca.

Depois desse dia, encasquetei com o tal do salgadinho de pimenta mexicana. Às vezes a imagem de sua embalagem verdinha me vem à mente. A coisa chegou a um ponto que tá foda. Nesta semana, acho que na sexta, eu sentei ao lado de uma mãe que tinha um guri vestindo sunguinha e ensebado de areia da praia em seu colo, quando juro que senti um cheiro do torcida de pimenta mexicana vindo dele. Fiquei inspirando com força pra me certificar. Perguntei-me se o guri não teria acabado de comer o tal salgadinho, mas conclui que estava ruim dos miolos mesmo.

Acabei de chegar em casa e agora há pouco tive outra alucinação quando estava vindo pra cá. Ao passar por um posto que nem tinha loja de conveniência senti novamente o cheiro do torcida de pimenta mexicana, e quando estava bem em frente a uma loja de havaianas!!!!! Mas diabos, o que está acontecendo comigo? Será que vou sonhar com o diacho do salgadinho? Algum terapeuta poderia me ajudar? Algum publicitário da Torcida quer me pagar pra eu fazer um comercial?

domingo, março 23, 2008

A chuva me faz imaginar que a casa é o lugar mais aconchegante do mundo.
Ultimamente tenho percebido o quanto a busca pela profundidade foi um obstáculo para mim no sentido de constituir uma opacidade que me impedia de ver o que é evidente. Análises demais sobre o que foi dito, ou o dito pelo não-dito; a investigação dos fatos, ou a busca do que poderia ser e nunca existiu. Tudo isso afastou-me sempre de perceber os sinais mais claros, as palavras que cristalizavam tantas coisas... Mas fui atrás do significado contrário, tentei por vezes acreditar que a palavra era um mero disfarce. Investi forças na busca pelo sentido de certos fatos, como se eles também não fossem evidentes. Hoje percebo que o que foi não poderia ter sido de outra maneira, e o que foi dito poderia ser considerado também o que foi pensado.

O jornalista - esse dono da verdade e deus da opinião pública

Um determinado jornalista daqui do meu estado é o manda chuva de um jornal que, caso você torcer, sai sangue. Diante da revolta de um repórter que havia escrito uma matéria nos trinques, mas que logo depois teve seu árduo trabalho convertido pelo editor num monte de asneiras sensacionalistas, o nosso ganancioso jornalista emitiu a seguinte frase:

- Vai vender como água!

E vendeu mesmo. Daí que a gente se pergunta se o "povo" (quem é o povo?) quer isso mesmo. Se quer, toma, não é assim? Entretanto, sei que o grotesco desperta uma curiosidade cruel no ser humano, mas é preciso ter cuidado ao achar que a "opinião pública" (quem é a opinião pública?) é estúpida.

Jornalista tem mania de achar que sabe o que o "povo" quer. Eles chamam isso de "interesse público". Algumas vezes o tal do "interesse público" é, em verdade, o que um determinado grupo político quer. Ou o que a vontade de ficar rico do dono do jornal deseja.

Não bastasse a arrogância de dizer que o "povo" precisa disso, ou o que a "opinião pública" pensa daquilo, eles ainda se auto-intitulam formadores de opinião. Ainda estão no tempo da teoria hipodérmica e acham que há uma equação muito fácil na relação mídia e cidadãos: o que passa na TV, no rádio ou no jornal é aceito pelo "povo" como verdade. Mas jornalista não é formador de opinião coisa nenhuma: ele, no máximo, pode contribuir para o espectador ou leitor pensar de determinada forma sobre um certo assunto. Se jornalista fosse formador de opinião, ninguém teria opinião: só eles.

Esse profissional, o jornalista, também acha que é o dono da verdade. Diz isso para obter credibilidade junto ao seu público, pra vender muito jornal, como quem oferece uma mangaba boa na feira. A notícia boa, fresquinha, pra ser comprada nas bancas, é a notícia verdadeira. Sei que é complicado dizer que qualquer jornalista pode dizer qualquer coisa por não ter compromisso com a objetividade. Entretanto, acho que o grande problema da mídia não é ser objetiva ou não, mas sim a concentração dos meios de comunicação nas mãos de políticos e magnatas da imprensa. A grande questão que precisa ser resolvida, pra mim, não é a eterna discussão sobre a objetividade, mas a democratização da mídia. Acho que mais vale um amplo debate com múltiplos discursos nos meios de comunicação promovido por diversos segmentos da sociedade, do que a preocupação sobre se a Globo está dizendo a verdade ou não.

No mais, eu tenho a infelicidade de ser um projeto de jornalista. E já me peguei falando em "interesse público" e em imparcialidade. Agora espero, francamente, sempre problematizar essas questões, e não virar "formadora de opinião" que acha que sabe tudo sobre o mundo e a "opinião pública".

- O que as pessoas vão pensar?

- O que eu quiser que elas pensem - respondeu o empresário da comunidação Charles Foster Kane em Cidadão Kane (1941), de Orson Welles.
Acho uma coisa deveras interessante: grande parte das pessoas se manifesta contra a fabricação de casacos de pele por considerar crueldade arrancar peles de animais ainda agonizantes. Outros ficam com pena dos golfinhos nas mãos de um carniceiro. Há também quem não esteja nem aí pra nada, afinal, animais irracionais não têm alma, então os seres humanos podem dominá-los e explorá-los de todas as formas. Mas o que me instiga, em particular, são as pessoas que querem o fim das touradas, mas acham normal o abate e comem no Mc Donald's.

quarta-feira, março 19, 2008

Com o advento das páginas pessoais e sites de relacionamentos, criou-se uma rede de solidariedade entre as pessoas. Gente, eu nunca vi tanto amor como há nessa internet. É amor demais nos recados de fotolog e nos scraps do orkut. Basta uma menina botar uma foto dela na festa do cachorro da prima da tia do cunhado pra aparecerem não sei quantos comentários "saudadeeeeeeee", "te amooooo", "você está lindaaaa!", e etc. Já vi até duas moçoilas que viviam falando mal uma da outra trocando apelidinhos carinhosos em fotolog. No orkut, então, as pessoas têm o coação enorme. Se todo mundo falasse eu te amo ao vivo a quantidade de vezes que fala em scraps, ninguém ia dar bom dia, só "eu te amo". Só eu que não tenho esse amor todo dentro de mim? Haja saco!
A música é, entre todas as artes, a que mais influencia os costumes das pessoas. Vivemos em círculos sociais que têm muito a ver com nossas preferências musicais. A depender do tipo de música que nos agrada, podemos ir para tal show, detestar tal lugar, simpatizar com certas pessas, ter preconceito contra outras.

Nosso gosto musical influencia, inclusive, a nossa forma de vestir. Metaleiros, por exemplo, só usam preto. Indies adoram all star e camisas listradas. Reggaeiros amam mochilas com as cores da Jamaica. Pagodeiros acham que são baianos e usam colares dos filhos de Gandhi. E por aí vai.

Com essa divisão toda, fica difícil um pagodeiro namorar uma rockeira. Tudo porque eles não irão se encontrar, já que um estará na Live (a boite das patricinhas daqui) e a outra na ATPN (o antro dos rockeiros sergipanos). Se eles foram sentar pra conversar, provavelmente terão visões de mundo bem distintas e, mesmo que se interessem um pelo outro, vai ser dureza conciliar interesses na hora de escolher opções de lazer.

Agora nunca vi ninguém se reunir em grupinhos que gostam de Monet ou Duchamp, nem usar uma grife que tenha a ver com Godard.
- Mulher, eu queria sair com ele. O que eu digo?

- Diga isso, que quer sair.

- Mas eu não vou parecer muito fácil?

- Se ele pensar dessa forma, você não deveria querer alguém assim, não é verdade?

Na minha visão, homens machistas são completamente dispensáveis. Se eles forem embora, melhor. Também não preciso de gente masoquista: aqueles que só querem aquilo que não está ao seu alcance e perdem o interesse por quem os corresponde. Quando deixamos de nos aventurar por pessoas masoquistas é porque algo mudou: também não gostamos mais de sofrer.

Gente que perde muito tempo com cu doce deixa de aproveitar bastante coisa. Joguinho pra lá, joguinho de cá, só entretem quem não tem inteligência suficiente para perceber que tudo é muito mais simples do que parece. Está certo que, muitas vezes, não somos inteligentes nesses assuntos, mas vale o esforço clarividente.

Outra coisa que me chama atenção: para mim, uma pessoa que "chega junto", que seduz, transmite a imagem de segurança. Dá-me a impressão de que confia no seu taco e não irá morrer se tomar um fora. Já aqueles que se fazem de misteriosos e dão voltas demais me parecem ou pessoas confusas, ou cretinas, ou que vestem uma armadura para lidar com aqueles que estão ao seu redor. Em todos esses casos, profundamente desinteressantes.
Quando viajo e estou no meio de um monte de gente, dou risadas gostosas, tiro onda, divirto-me muito. Mas de vez em quando me vem o instinto de ficar sozinha. Sempre preciso de momentos para estar só. Aprecio muito isso. Entretanto, as pessoas não entendem, e ficam perguntando como diabos uma pessoa que agora a pouco estava fazendo folia de repente foi se isolar num canto. Muitas vezes essa necessidade é confundida com tristeza repentina. Mas não é. A solidão não é triste: é apenas um encontro com o mundo.

terça-feira, março 18, 2008

Percebo que estou numa nova fase e com interesses distintos. Só não sei direito ainda por onde começar...
Eu costumo rejeitar na vida o que não me oferece prazer. Preciso gostar do que tenho, do que faço ou com quem estou. Não adianta tentar ajeitar daqui, acostumar-se dali... Eu exijo estar satisfeita! Talvez até exija demais. Ou não, quem sabe até ature demais.

terça-feira, março 11, 2008

Muitas vezes, eu me sinto culpada por não gostar de alguém. Ora ora, tenho que parar de tentar entender a psicologia humana e deixar de lado esse negócio de observar o lado bom das pessoas.

Não gosto, não tenho a obrigação de gostar de ninguém. Assim como ninguém tem que me amar a pulso.
Experimente ter uma história mal resolvida e você ficará girando em círculos, sempre retornando a ela. As coisas têm que ser vividas até a última gota.

domingo, março 09, 2008

Eu sempre escuto o capeta. Se tem dois caminhos pra seguir, eu sempre escolho o errado. Então tá muito na cara que se eu me meter ali eu vou me ferrar, mas eu tenho que testar, tenho que saber se vou me foder mesmo. Aí me meto nas piores confusões, e tudo isso com um feeling imenso. Não canso de quebar a cara.

sexta-feira, março 07, 2008

Madrigal

Meu amor é simples, Dora,
Como a água e o pão.

Como o céu refletido
Nas pupilas de um cão

José Paulo Paes

quinta-feira, março 06, 2008

Da série "me and the gay guys", bem, só me faltava essa! Então minha mãe resolve fazer não sei que tipo de escova e pintar as unhas, e gastar uma fortuna no cabeleireiro. Ao chegar na porta da residência dele, onde funcionava o seu salão, minha mãe conta que o tal cabeleireiro descobriu que era gay. Ele agora morava junto com um homem, depois de passar 10 anos casado com uma mulher. Eu só me perguntava como diabos alguém demora tanto pra descobrir que não gosta de uma coisa, e sim de outra!!! Até que o ajudante dele vem atender a porta e pede para esperarmos na sala de estar. O tal ajudante ficava gritando peeeeeeeeeeeeeeega, enquanto assistia a um vídeo de uma festa que acontece na Espanha. A festa consiste na diversão imbecil de um povo besta, em que um touro fica correndo atrás das pessoas na rua, enquanto é segurado por um monte de marmanjos através de uma imensa corda.

Após um bom tempo diante daquele espetáculo deplorável (sim, eu não como carne, e daí?), finalmente eis que me surge o dito cujo, o cabelereiro. Estranhamente ele me olha de cima a baixo com uma cara que, quando alguém faz pra mim, eu interpreto que essa pessoa quer me pegar.

- Não, Tatiana, isso é coisa da sua cabeça! Ele é gay, oras!

Não foi a primeira vez que isso me aconteceu. Nem a última. Então ele começou a bater papo com minha mãe e, conversa vai, conversa vem, ele vez ou outra olhava pra mim. Até que minha mãe resolveu me apresentar a ele.

- Sua filha é tão bonita! Ela é toda encorpada! E tem umas coxas grossas, né? A primeira coisa que reparei quando a vi foram as coxas!

Um comentário desse vindo de um hetero seria levado como uma ofensa pela minha mãe. Mas por ter vindo de um gay, foi recebido com gracinha e risinhos dela. Saí de lá encucada e discutindo com minha mãe como diabos alguém demora dez anos pra descobrir que não gosta de uma coisa. Será que gosta das duas coisas?

terça-feira, março 04, 2008

Quando o homem de bem resolve avacalhar

Algo que me atrai muito no cinema são aqueles protagonistas que avacalham, pois, como diria o bandido da luz vermelha em filme homônimo de Rogério Sganzerla, "quando a gente não pode fazer nada, a gente avacalha e se esculhamba!". Personagens como Capitão Nascimento, interpretado por Wagner Moura, em Tropa de Elite (2007), dirigido por José Padilha, Travis, incorporado por Robert de Niro em Taxi Driver (1976), de Martin Scorsese e Brad Pitt na pele de Tyler Durden em Clube da Luta (1999), de David Fincher, são bons exemplos de indivíduos doentes que vivem numa sociedade igualmente doente e se afogam na mais completa merda.

Capitão Nascimento é um homem cansado de subir em favela pra caçar traficantes e tem uma conduta profissional deplorável, que inclui torturar mulheres e adolescentes. Já Tyler Durden, o alter ego do narrador representado por Edward Norton, cria um clube onde marmanjos trocam porradas para sublimar as frustrações do cotidiano. Em Taxi Driver, Travis é um ex-soldado da Guerra do Vietnã que vira taxista e trabalha de madrugada, sendo que a única paixão da sua vida é ver filmes pornôs.

Todos eles representam o "cidadão de bem", aquele homem que paga seus impostos e cumpre seus deveres diante do Estado, mas que, em determinado momento, ficam esquizofrênicos, violentos e no limiar entre o "homem de bem" e o sociapata. O próprio Capitão Nascimento se revolta contra esse Estado e coloca a bandeira do BOPE em cima da bandeira do Brasil, que vestia o caixão do falecido policial Neto. O ato simbólico atenta para o fato de vivermos num caos em que o Estado parece não apresentar soluções, já que esse caos é a cristalização de diversas injustiças inerentes ao modelo de sociedade em que vivemos. Capitão Nascimento nos lembra que a única instituição do Estado que vai até a favela é a polícia. Nascimento irrita-se com a incubência de uma missão mirabolante, a Operação Papa, e se encarrega de fazer "uma limpeza" na favela para garantir o sono do papa. Ou seja, a elite utiliza a violência física da instituição da polícia para vigiar e punir os mais pobres, algo de que já falava Foucault, que ironicamente é citado no filme. Capitão Nascimento é o fruto de uma sociedade tomada pela barbárie, onde palavras como justiça adiquirem um outro sentido - sentido esse cada vez mais afastado dos ditames da sociedade civilizada, e cada vez mais próximo da justiça com as próprias mãos.

Em Taxi Driver, Travis, ao mesmo tempo em que quer trabalhar junto com o senador candidato a presidente, realiza um atentado contra ele logo após o seu discurso em praça pública. Travis é o cara frustrado, que se sente o rei da cocada preta depois de adiquirir um monte de armas, paladino da justiça ao ver um assalto e atirar no bandido - negro, e que toma um surra, ainda desmaiado, do dono da loja, um branco. Ele se rebela contra o Estado na figura de Palatine, o candidato à presidência, o mesmo Estado que o enviou para a Guerra do Vietnã. Também se sente o juiz do mundo ao atirar em cafetões para salvar uma menina de 12 anos que era explorada sexualmente. Travis, assim como Capitão Nascimento, desiste do Estado e resolve aplicar a justiça com seus próprios métodos, práticas essas que não são modelos de conduta típicos de um herói.

Só que esses anti-heróis muitas vezes são confundidos com verdadeiros heróis. O que significa, talvez, que vivemos num mundo repleto de sociopatas em potencial. Afinal, os "homens de bem" estão em toda parte bravejando que os direitos humanos foram feitos para bandidos - e muitas vezes defendendo uma regressão ao código de Hamurabi. Exemplo disso são comunidades no orkut como Capitão Nascimento para presidente, Verdades de Capitão Nascimento e Discípulos de Capitão Nascimento, todas com milhares de pessoas. O filme se tornou uma verdadeira febre e faz pensar sobre a responsabilidade de um diretor sobre o discurso presente numa obra cinematográfica - que, nesse caso, apresenta os fatos sob a perspectiva de um policial truculento. O fato lembra o celebrado Laranja Mecânica (1971), de Stanley Kubrick. O filme apresentava o protagonista Alex, que depois de cometer diversas atrocidades, é condenado e exposto a punições atrozes amparadas pelo aparelho estatal. O dilema de Alex e o de Capitão Nascimento ou Travis é o mesmo: o dilema entre a violência individual e a violência institucionalizada, só que Alex, ao contrário de Nascimento e Travis, não se considerava nem pretendia ser um herói. O próprio Kubrick chegou a impedir a exibição de Laranja Mecânica na época, após ficar estarrecido ao saber que grupos de jovens imitavam as atitudes do bando liderado por Alex no filme.

O também violento Tyler Durden trocava porrada com outros marmanjos no Clube da Luta, um lugar onde eles deixavam sua civilidade de lado e brigavam, numa espécie de ritual catártico longe dos ditames da sociedade - ritual tão catártico quanto aquele apresentado em De Olhos Bem Fechados (1999), dirigido por Stanley Kubrick, só que o primeiro é dedicado ao instinto de morte, à agressividade, e o segundo ao instinto de Eros, ou à exacerbação da libido reprimida pelo moralismo. O personagem de Edward Norton faz, igualmente, o tipo "cidadão de bem", que vive para trabalhar e consumir, até entrar em pânico ao ter todas as coisas perdidas num incêndio em seu apartamento. Tyler Durden, seu alter-ego e líder do Clube da Luta, a representação em carne e osso da esquizofrenia de um "homem de bem", faz um verdadeiro manifesto contra a sociedade de consumo: "As coisas que você possui acabam te possuindo.Você só é realmente livre após perder tudo. Pois aí nao terá o que perder, e, enfim, estará livre". Assim como ocorreu com Laranja Mecânica, um psicopata também encontrou a expressão de sua mente doentia em Clube da Luta - ao ponto de entrar numa sala de projeção desferindo tiros contra a platéia, que achou que os tiros vinham da tela e não do mundo real. O criminoso era, assim como nossos protagonistas, um homem de bem: um médico.

Durden, Nascimento, Travis, todos eles eram homens que se encaixavam plenamente no que seria um homem respeitável na sociedade, todos eram conservadores, "homens de bem", até que começam a avacalhar. E os espectadores ficam que nem aqueles que estavam na sessão de Clube da Luta onde soaram os tiros - no limiar entre realidade e ficção, na esquizofrenia da sociedade do espetáculo. Os adoradores de Capitão Nascimento nos mostram que há muitos Travis entre nós.