terça-feira, outubro 31, 2006

O partido do coração partido

Estava em sala de aula, quando vi em cima da carteira do meu colega uma edição do Brasil de Fato. Na capa, Lula dando aqueles abraços de político, e dizeres em letras garrafais como "vamos derrotar a direita", algo assim. Eu ri, aquele riso que se tem diante da mediocridade.

Interessante ver a esquerda fazer a mesmíssima coisa da direita, a exemplo da atitude demagoga de Lula e da capa panfletária do Brasil de Fato, que merecia o troféu VEJA que Jornalismo!

A questão não é a busca da imparcialidade. Não defendo isso. O problema é que boicotar esse princípio, na minha humilde opinião, não é incorrer no mesmo erro da imprensa que os esquerdistas tanto criticam, imprensa refém de partidos políticos.

Não sejamos imparciais, ok. Mas isso não significa que agora vamos querer iluminar as pessoas com nossas opiniões de "críticos" e sermos tão autoritários quanto qualquer reacionário. Não é preciso dizer ao povo que vote nesse, e não naquele, que acredite nisso, e não naquilo. É necessário pluralidade, sim. E é preciso que essa esquerda de merda deixe o povo falar por si.

Quando eu digo que acredito que o Jornalismo não deva ser imparcial, não digo que um jornal deve virar capacho de político. Será que não ser imparcial significa ser entusiasta de partidos? Acho que não. A parcialidade que defendo é ficar do lado do trabalhador que teve a mão decepada no trabalho, do menino que é chamado de trombadinha, da mulher que apanha do marido, do negro que é ofendido na rua, do homossexual que foi expulso de casa. É defender DIREITOS HUMANOS, e não um determinado candidato.

Mas aí a gente vê um jornal que se diz independente, como é o caso do Brasil de Fato, com uma capa dessas. Pois é, mas a Veja também não diz que é independente?

Não vá tomar no cu

Ninguém perdoa as pessoas que perdem o controle. É aquela velha história, alguém vem e dá pitaco na sua vida. Ninguém acha isso legal, né, todo mundo concorda que tá errado. Até que você diz um estonteante "vá cuidar de sua vida!". Pronto, fudeu, agora tá todo mundo contra você.

É assim desde o início dos tempos. Quem perde o controle vira vilão. Podem te encher o saco à vontade, mas se você soltar um "vá se fuder"... Aí já viu, você tem culpa de tudo, como é intolerante, é preciso educação e paciência.

O mais engraçado disso é que o politicamente correto é a ironia, o sarcasmo, a vileza do comentário sutil. Tudo nas entrelinhas. Nada claro e dito às alturas. Você, caro (a) colega que já mandou alguém se fuder, fez papel de tolo (a)! Eles querem pessoas que saibam ser cruéis com poucas palavras. E isso é uma arte. Quem é afeito aos gestos expansivos e às emoções fortes faz papel de bobo da corte e ainda é levado ao chacote em praça pública.

Não seja um (a) fraco (a). Não dê uma de Bukowski ou Fernando Pessoa. Revista a sua raiva numa áurea de vileza contida, nobre, casta, de quem é superior. O que Jesus Cristo não soube fazer diante dos comerciantes no templo.

sexta-feira, outubro 27, 2006

Eu tenho que estar apaixonada 24 horas por dia. Se não estou fazendo alguma coisa de que gosto muito, fico deprê. Ok. Minha mente é uma fábrica de pensamentos inúteis. Contra isso, há essa vontade de fazer tudo e ao mesmo tempo. O fato é que sou hiperativa, e preciso fazer coisas o tempo todo, preciso de um trabalho pelo qual eu me apaixone, um filme, uma música, um livro, minha cachorrinha, sei lá. Agora estou metida em bilhões de ocupações e paixonites crônicas!

segunda-feira, outubro 23, 2006

Cotidiano: parte III

Seu canalha! Uma mulher chorando e gritando em plena avenida cheia de carros de gentes que pagam impostos. Foi assim, de supetão, como foi pra você o início do meu texto, caro leitor. Eu estava distraída, há pouco um homem tivera de buzinar para que meu corpo não rolasse sobre o carro. Bem me lembro que é assim nos filmes. Mas isso não interessa. O que interessa é que uma moça gritava e chorava no meio da rua, e uma mulher com sandálias havaianas passou e seguiu, um homem de bicileta passou e seguiu. Até que uma mulher puxou seu filho e sua sacola de pão, e foi em direção à moça que chorava e gritava no meio da avenida. Tomei coragem para me aproximar dela também. Entretanto, eu era apenas alguém perdida numa daquelas cenas que nos arrancam para o que há de sórdido no mundo.

- Seu canalha, você é um monstro!

- O que foi, minha filha? Quem é aquele rapaz?- disse a senhora dos pães, e eu tentava achar o canalha, mas pra todos os lados só havia homens com passos tranquilos, então o canalha devia também ser um cínico - Quem é, quem é?

- É meu marido - era a resposta que eu e a senhora com sacola de pães esperávamos.

- Mas o que foi que você fez pra ele fazer isso? - Não pude deixar de me indignar com a pergunta da senhora. Então devia haver alguma justificativa para o injustificável? Eu, covarde, não consegui pronunciar palavra.

Enquanto a senhora lhe fazia perguntas, a moça fitava atentamente e marcada de dor amarga algum daqueles homens tranquilos, e eu tentava, mas não descobria qual deles era seu marido frio como pedra do sertão à noite. Deveria ter seus 18 anos, era gordinha, usava uma blusa vermelha e uma calça jeans. Segurava o rosto quase como se estivesse dando tapas na própria cara, e se infringia alguma espécie de castigo privado. A senhora enchia o peito com ar de mulher batalhadora do pão das crianças.

- Vá na Delegacia da Mulher. Você tem que denunciar. Não deixe assim não. Ele tem que aprender.

E a garota correu andando, e adentrou exasperada de fragilidade, em seus passos bambos de lágrima, amor, ódio e surra, desviando do guarda, pela porta do Posto Sinhazinha.

Cotidiano: parte II

Um dia frio, às vezes alguma goteira faz gozação da minha sorte, vejo águas nojentas, ônibus e pára brisas de gotas. Me dá vontade de alguma coisa doce. Chego junto de uma banquinha que tinha uma cobertura de plástico. Eu a escolhi a dedo, não queria balas molhadas. Digo à moça enquanto fito as minhas chicletes preferidas.

- Quero duas dessa - e repouso uma moeda de cinquenta centavos em uma mão desconhecida.

- Ah, mas você pode conseguir muitos clientes... - disse um homem de casaco marrom para a menina a quem eu dera a moeda, bem diante dos meus olhos agora atônitos - com isso aqui... E ergueu o cigarro que havia acabado de comprar da garota. Ela deveria ter uns 16 anos. Lembrei do trabalho infantil, droga, eu não tinha percebido que ela era tão nova.

Fiquei assustada. Aquela história do cigarro não me descia. Notei que ela era uma mulata muito bonita, e ria gostoso e com jeito inocente diante do olhar lascivo do homem que erguia o cigarro no ar como uma oferenda. Eu não sei, aquele cigarro...

domingo, outubro 22, 2006

Domingo...

Essa semana eu estava assistindo a um telejornal, algo muito raro, apesar da minha obrigação enquanto estudante de Jornalismo, mas foda-se, enfim, aí o cara disse num tom soberano: "Esse fim de semana vai ser de sol, a possibilidade de chuva é mínima, podem ir à praia tranquilamente". Beleza.

Aí ontem fui à Orla de noite, e pense num toró! Minha casa tá cheia de goteira, choveu o dia todo, um inferno! Sabe do que lembrei? Do Titanic! Todo mundo dizia que ele não afundava nem a pau, e na primeira viagem o navio afunda!

Só digo uma coisa: se Deus existir, ele adora tirar onda!

sexta-feira, outubro 20, 2006

I think I'm paranoid

Acordo, mas prefiro permanecer de olhos fechados. Tenho fastio de novos dias. De repente, não mais que de repente, uma lembrança me vem à cabeça como um vulto. Agora, a dúvida: teria isso realmente acontecido, teria essa pessoa realmente me dito isso, ou não passa de nóia criada pela minha mente com uma incrível capacidade de invenção e fabricação de pensamentos descartáveis? Brilho eterno de uma mente sem lembranças, meu filme favorito, lembrei-me dele nesse momento. Depois, o dia inteiro não passou de uma sequência de lembranças vazias, de memórias avulsas, de idéias deveras desconexas. Acredite, é muito angustiante perder os limites do real. Você se pergunta, se pergunta, mas está num labirinto de flashs, nada que se possa estabelecer uma narrativa. Não adianta. Por mais que eu tente descobrir se era sonho ou realidade, é como um amigo disse: a maior parte do que você lembra é uma história criada por você. Lembramos de pessoas em situações nas quais elas na verdade não estavam, perdemos a linearidade, imaginamos feições, gestos, que só existem nas nossas interpretações. Rememorar é uma grande invencionice. Achamos que podemos alcançar o passado, que ele estará lá numa gaveta à nossa disposição. Mas não passam de memórias esquizofrênicas e vacilantes.

terça-feira, outubro 17, 2006

Uma descoberta

Com alguma dor então Lóri percebeu que Ulisses, apesar de dizer o contrário, não queria se dar a ela. E ela pagaria com a mesma moeda. Talvez antes de ele falar, ela tivesse a intenção de um dia dar-se, pois sabia que teria de dar a alguém o que ela era, senão o que faria de si? Como morrer antes de dar-se, mesmo em silêncio? Porque no dar-se teria enfim uma testemunha de si própria. E porque Ulisses também teria pensado na morte, ele disse:

- Antes de morrer se vive, Lóri. É uma naturalidade morrer, transformar-se, transmutar-se. Nunca se inventou nada além de morrer. Como nunca se inventou um modo diferente de amor de corpo que, no entanto, é estranho e cego e no entanto cada pessoa, sem saber da outra, reinventa a cópia. Morrer deve ser um gozo natural. Depois de morrer não se vai ao paraíso, morrer é que é o paraíso.

Ficaram em silêncio muito tempo, um silêncio que não pesava. Até que ele, como se quisesse lhe dar alguma coisa, disse:

- Olhe para esse pardal, Lóri - mandou ele - não pára de ciscar o chão que aparentemente está vazio mas com certeza seus olhos vêem a comida.

Obediente, ela olhou. E de súbito eis que o pardal alçou vôo, e na surpresa Lóri esqueceu-se de si própria e disse como uma criança para Ulisses:

- É tão bonito que voa!

Falara com a inocência que usava nas aulas com as crianças, quando não temia ser julgada. Inquieta então olhou rápido para o lado de Ulisses. Ele a olhava. Com um susto Lóri notou: era um olhar... de amor?

O livro dos prazeres, Clarice Lispector

Imagem: Ulisses e as sereias, de Herbert Draper

domingo, outubro 15, 2006

Amor profano

Nunca pensei que amor assim pudesse ter
Eu que sempre morri de amor
Agora posso viver de amor
E com o amor viver em paz

De um amor que não tem deuses
Os deuses são tiranos

Os homens não amam os deuses, adoram
Os deuses não amam os homens, perdoam

De um amor que não tem cercas
Terra onde tudo se ocupa e produz

Amor em que o cúmulo do sagrado é o cúmulo do profano
Amor em que o espetáculo se faz no que é cotidiano

Amor, quando eu disser que te amo
Não digo que morro de amores por você
Amor, eu não morro
Não morro porque quero viver

sexta-feira, outubro 13, 2006


Uns governam o mundo, outros são o mundo.

Fernando Pessoa, em O livro do desassossego.

Imagem: Manifestação de Maio de 1968

Planet Telex


You can force it but it will not come.
You can taste it but it will not form.
You can crush it but it's always here.
You can crush it but it's always near
Chasing you home saying everything is broken
Everyone is broken.

You can force it but it will stay stung.
You can crush it as dry as a bone.
You can walk it home straight from school.
You can kiss it
you can break all the rules
But still everything is broken,
Everyone is broken.

quinta-feira, outubro 12, 2006

La dolce vita

Caderninho e caneta a postos. Lá vou eu incomodar crianças que assistiam a um filme. Tudo escuro, como deve ser numa sala de cinema, e eu fico meio encabulada pra pedir entrevista. Pergunto a uma garotinha se ela queria bater um papinho comigo, e ela me responde toda sorridente que sim. Diz que nunca tinha vindo ao cinema, e era muito emocionante porque parecia que os desenhos animados eram reais. Lembrei de Nide, mulher de seus 40 anos muito bem vividos nos confins de Sergipe, que quando foi pela primeira vez ao cinema ficou com medo de as imagens saírem da tela. A magia é coisa muito bonita.

Bem, agora eu queria entrevistar uma criança da outra escola. Uma menina de seus 16 anos disse que era melhor outra pessoa falar, porque ela era grande e aquele filme não lhe era interessante. Até a vi depois fugir da sala aos risinhos acompanhada de um rapaz. Então um menino veio até mim trazido por um moço que se descrevia como seu responsável.

Fui logo abrindo o caderno e perguntei ao menino o que ele havia achado do filme. Ele ficou envergonhado, escondeu um tantinho do rosto com as pequeninas mãos, e disse que tinha achado muito bom. Perguntei-lhe se era a primeira vez que vinha ao cinema. Ele disse que sim.

- Então me conte da sua experiência, como foi vir pela primeira vez ao cinema?

- Foi muito bom - e insistiu em não olhar nos meus olhos.

Quando esta humilde estagiária que vos fala estava diante do computador a escrever suas matérias, perguntou-se: qual depoimento vou colocar na matéria? Lembrei do que o menino disse. No momento em que estava conversando com ele fiquei meio decepcionada, porque esperava uma declaração muito boa. Mas ele só disse que tinha achado muito bom. A menina, não obstante, havia dito algo com muito mais feeling, que os desenhos animados pareciam reais.

Então, o que eu iria escrever? Falaria sobre a menina, certo? Errado. Depois de um tempo, percebi que o mais apaixonante estava na simplicidade com que o menino falou do cinema. A menina olhava pra lá e pra cá, sempre preocupada com o fotógrafo. Perto do menino não havia fotógrafo, pois o repórter fotográfico havia saído para tirar fotos das crianças que estavam na sala de projeção, e o menino só pensava em voltar pra sala pra continuar a assistir às aventuras das coisas encantadas.

Eu escrevi: "Esta foi a primeira vez que Felipe Silva, 10 anos, esteve no cinema, e mesmo acanhado declarou: 'Achei muito bom'". Adorei o fato de a minha chefe não ter cortado o "mesmo acanhado" na hora da edição.

Às vezes a gente precisa descobrir a beleza das coisas simples, porque elas podem estar repletas de belas poesias sem rima e sem métrica, mas cheias de sinceridade.

Hahaha

Estou converando no msn, pá, quando de repente a pessoa solta um "hahaha". Fico parada diante da tela do computador, tenho um tic. Não entendo porque certos tipos de risadas msnísticas me irritam tanto. Não, pelo amor de todos os deuses, não diga hahaha, nem rsrsrs, nem huahuahua!! Isso me dá tic tic nervoso, tic tic nervoso! Várias vezes já pedi que rissem de forma diferente, reclamei que hahaha parecia que a pessoa estava mangando da minha cara, huahuahua era coisa de imbecil, e rsrsrs era falso. Mas por quê? Bem, isso nem Freud explica!

segunda-feira, outubro 09, 2006

Movimento Melancia


Aí sabe tirar onda, viu?

De grão em grão

Se um jornalista publica uma matéria que manipula descaradamente as informações, a culpa é do editor, do dono do jornal, do governo, do sistema capitalista. Se Fulano de Tal pressiona funcionários a votarem no candidato X, falta ao trabalho para fazer panfletagem, compra votos, faz boca de urna, a culpa é do governo, do capitalismo. Ora, é preciso tomar vergonha na cara e assumir nossas responsabilidades. Só é corrupto quem está lá no Congresso Nacional, no Palácio do Planalto? Ou por toda parte vemos pequenas corrupções e pequenos corruptos? Se seremos pequenos corruptos ou cidadãos responsáveis a decisão é nossa, somente nossa. Mas precisamos lembrar que uma estrutura social injusta não é feita apenas por homens grandes, assim como uma estrutura social mais justa também não é construída apenas por homens grandes.

sexta-feira, outubro 06, 2006

E Deus me disse: desce e arrasa!

Eu nunca me senti tão realizada em toda minha vida =)

Hoje eu faço com meu braço o meu viver...

Água viva

Não beba deste copo d'água
pois esta água é viva
não viva a beber deste copo d'água
a salvar suas mentiras
deixe-as afogadas
vá lá, e viva
não se afogue neste copo
de água viva

é hora de iluminar as sombras do bar
pois a noite finda
não durma na calçada
hoje tem mais rotina

A rua não é para os bêbados dormirem
e sim para os homens que pagam impostos passarem
não cante músicas de amor
porque a rua é dos homens casados
Vá pra casa, não tropece, boa viagem
A noite finda
não durma na calçada
hoje tem mais rotina.

terça-feira, outubro 03, 2006

Bipolares

Tava conversando com um amigo meu, e ele de repente soltou essa: "gosto do trabalho, mas, como tudo na vida, é um pouco chato". Nossa! Como esssa frase coube em mim direitinho!

Começamos a discutir o quanto nós éramos doidos. Nós dois tínhamos a estranha mania de nos super-empolgarmos com as coisas e, ao mesmo tempo, acharmos tudo extremamente entediante. Mas é... a vida parece incrível, entretanto, é tão a mesma, que às vezes me sinto num eterno expediente de funcionário público.

Talvez nós sejamos bipolares. Já fiz até teste de internet, e, segundo o resultado, há grandes possibilidades de eu ser bipolar. Não obstante, não sou idiota ao ponto de acreditar em testes de internet, afinal, já houve um que disse que eu era a Britney Spears. E será que a Britney não fica entediada com tantas viagens, flashs, fãs enlouquecidos?

Não, não adianta. Por mais que o dia seja outro, ainda é o mesmo sol, o mesmo caminho, as mesmas pessoas. E se tudo fosse como um orgasmo, um chocolate, uma viagem, seria muito mais entendiante. Afinal, a graça do orgasmo é que ele só dura 10 segundos.